segunda-feira, 27 de março de 2017

Kung-Fu e questões do Mundo Moderno.



A minha atual compreensão sobre o Sistema Ving Tsun Kung-Fu ( tudo está em evolução, inclusive nosso conhecimento) me permite dizer que este Sistema de variação de cenários, leva o seu praticante a desenvolver um olhar cuidadoso, capaz de apresentar respostas com mais qualidade e menor esforço.

Ao lado dos Líderes do Grande Clã Moy Yat Sang, Si Fu é titulado Mestre Senior. Foto 2014.



Apresentado dentro de um cenário de Combate Simbólico, o pensamento estratégico desenvolve-se com movimentos legítimos; estes são exatamente aqueles estrategicamente executados, ficando de fora a visão inocente de que existam" movimentos que funcionam" ou até mesmo os que sejam" infalíveis". Afinal, aquilo que funcionaria com uma pessoa em um cenário, pode perfeitamente não funcionar com outra no mesmo cenário, ou até com àquela, em um cenário diferente.

O gerenciamento das emoções faz parte deste processo de desenvolvimento dentro do Sistema Ving Tsun. Importante salientar que não se trata de controle das emoções, pois seria paradoxal falar em controlar aquilo se sente, mas gerenciar todo o processo mental de reações emocionais, não é apenas possível, como fundamental para que nossas ações sejam revestidas de excelência estratégica.

Si Fu em visita à China. Ano 2009.



Compreendendo o termo Sistema como um conjunto de princípios donde se deduzem conclusões coordenadas entre si, entrelaçadas numa concatenação lógica, formando um todo harmônico, digo que o Sistema Ving Tsun leva ao praticante experimentar variações de cenários apoiando suas ações no conhecimento acumulado através dos estímulos recebidos e sensorialmente percebidos.

Roberto Viana durante a prática livre. Barra da Tijuca 2005.



Estes estímulos recebidos e também fornecidos em parceria com outro praticante, possuem o potencial de elevar a percepção atenciosa sobre outro, o que cria um cenário favorável à leitura de nossas próprias reações psicomotoras, que são as referentes aos efeitos motores dos processos mentais.


Fábio e Erica executam o Chi Sau. Foto 2011.



O Sistema Ving Tsun, fornece através de sua prática, ferramentas capazes de potencializar nossa sensibilidade e percepção daquilo que está à nossa volta, por estimular a leitura sobre o cenário no qual estamos inseridos e também sobre nós mesmos, nossa expressão pessoal, nossa capacidade em responder da melhor forma possível às situações que nos são apresentadas, o que é muito interessante para o mundo moderno, onde tudo acontece de forma cada vez mais rápida, exigindo de cada um de nós a capacidade de adaptação por vezes até imediata, enfim por se tratar da própria  vida, de um cenário em constante variação.


Si Fu visita Núcleo Méier. Foto 2011.


O Ving Tsun, um sistema de Kung-Fu eficiente de combate corporal, possui ferramentas que estimulam o seu praticante a encontrar respostas para além daquilo que se popularizou chamar de Lutas ou Artes Marciais, que o torna uma prática acessível à todas as pessoas.

Comemoração do Ano Novo Chinês. Foto 2017.

domingo, 12 de março de 2017

Avaliação de cenário como posicionamento estratégico.

Na terça-feira da semana passada, fui participar do café da manhã com meu Si Fu em uma padaria dentro do Condomínio onde ele mora. Cheguei ao local com cinco minutos de atraso, o que é muito ruim, afinal a presença do Si Fu deve ser aproveitada ao máximo, para que se possa ouví-lo por todo o tempo que ele disponibilizou, e aprender com isso.

Café da manhã com Si Fu. Na foto três discípulos: Carlos Antunes está ao lado do Si Fu que tem à sua frente  Pedro Corrêa,  ao lado de Rodrigo Moreira.

Atrasado, passei pelo salão da padaria indo direto à varanda onde, habitualmente meu Si Fu junta-se a nós para o café  . Ele não estava lá. Ao pegar o telefone para fazer contato notei que estavam em outra mesa, na parte interna da padaria.

É importante que a vivência marcial traga para o To Dai (aluno) uma experiência significativa, e esta não foi diferente. Horas depois, meu Si Fu chamou-me a parte quando já estávamos no Mo Gun  e disse: "Roberto, quando você chega em algum lugar, o olho deve chegar primeiro".

São nas atividades comuns da vida que perdemos mais facilmente o grau de atenção que temos, seja no trânsito, no trabalho, em casa, etc.  Avaliar o cenário, "o olho chegar primeiro" é fundamental para que nossas ações sejam revestidas de uma excelência estratégica.

O Kung-Fu aflora a partir de uma necessidade, os cenários assim como a vida, mudam constantemente, sendo necessário a capacidade de adaptação, não havendo técnica infalível ou uma sequência de treinamentos capaz de gerar o completo desenvolvimento humano, mesmo porque este é um processo contínuo, e como ninguém atinge a perfeição, será sempre um processo inacabado.

  Mestre Senior Julio Camacho ministrando palestra sobre Introdução ao Sistema Ving Tsun. Núcleo Barra da Tijuca, ano 2016.


 A capacidade avaliativa do cenário é fundamental para qualquer pessoa, em qualquer momento e área da vida, e o praticante de Ving Tsun encontra na experiência marcial a oportunidade de avaliar o cenário sob pressão através do combate simbólico. Importante ressaltar aqui que o termo combate simbólico se refere a uma experiência corporal significativa. É oposto ao termo combate real, este levado até a morte, reprovado socialmente, além de ser óbvio não fazer sentido dentro de uma proposta de desenvolvimento humano, onde todos crescem juntos.

Chi Sau: com os braços aderidos, o praticante desenvolve a percepção através dos estímulos que fornece e recebe, desenvolvendo uma reação atenciosa e avaliando sua escolha em um cenário no qual está sob constante pressão.


Com a avaliação do cenário vem a reação, o que não significa aqui se opor ou resistir à uma ação. Segundo a lógica chinesa, reagir é aceitar o que vem para daí então, avaliar a ação. Não há resistência no sentido de ir contra, mas no sentido de se ter uma atenção ao que está a volta, dentro de um cenário em que se encontra inserido.

A fase Sau corresponde  a esta aceitação e assimilação de cenários, e está presente na primeira triologia do Sistema Ving Tsun, composto por Siu Nim Tau, Cham Kiu e Biu Ji.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Vida Kung Fu: um processo de desenvolvimento humano.





Ao receber o chá, meu Mestre Júlio Camacho me aceita formalmente como seu Discípulo.



Se você lançar uma boa semente ao solo na esperança de que ela cresça e se desenvolva formando uma bela e forte árvore, será necessário que alguns elementos estejam envolvidos : uma boa terra, a chuva, o vento e o sol na medida da necessidade daquela que, um dia,  será uma árvore.

Penso no Kung-Fu como o germinar de uma semente que existe em cada um de nós, pronta para ser desenvolvida através de um Sistema que nos possibilite acessar as ferramentas adequadas para tal.  No entanto, apenas isto não é o suficiente. 


Mestre Julio Camacho fala da importância em compreender os ideogramas.


Assim como uma semente para se tornar árvore precisa de todo um ambiente adequado ao seu desenvolvimento, o praticante de Kung-Fu deve contar com um cenário que favoreça o seu desenvolvimento, uma relação capaz de potencializar a percepção sobre si mesmo, seus valores, seus limites, seus potenciais. Um Sistema de Kung-Fu não é um fim em si mesmo, ele é apenas uma referência, e desta forma,  precisa de um modo apropriado de acesso, um ambiente adequado para ser desenvolvido, que é aquilo que os chineses chamam de Sam Faat, termo que recebeu no Ocidente, através de Patriarca Moy Yat , a denominação de Vida Kung-Fu.


Patriarca Moy Yat deixou um rico legado: a Vida Kung-Fu como modo de acesso ao Sistema Ving Tsun.




Kung-Fu não se ensina, apenas se aprende e desta forma, quem transmite aprende junto com aquele que recebe a transmissão, não havendo de forma alguma qualquer passividade no processo, o que é muito importante por ser o praticante agente de seu próprio aprendizado, e ainda que não perceba seu desenvolvimento, seu Kung-Fu certamente aparecerá no momento em que for preciso aparecer.

                        Meu Mestre e eu durante a comemoração do Ano Novo Chinês (Ano do Galo de Fogo).

É na relação próxima com seu Si Fu que o praticante vai compreendendo melhor sobre sua caminhada, é no estreitamento da relação, ou seja, é com a Vida Kung-Fu que a percepção sobre si e sobre o que está à sua volta se torna mais clara, afinal Kung-Fu é muito mais do que um nome genérico para artes marciais vindas da China. É uma habilidade incorporada à pessoa, em qualquer área do saber, ou seja, é um processo de desenvolvimento humano.


 É por esta razão que eu não pratico Ving Tsun por causa daquilo que sei. Pratico por causa daquilo que sinto. É a Vida Kung-Fu que me move através do Sistema Ving Tsun.