terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Atento a si mesmo.

     

Somos observados durante a prática por Si Fu (no alto da foto à direita, e nosso irmão Kung-Fu, Thiago Silva, na parte inferior da foto). 


     Semana passada, durante nossa Aula de Excelência ministrada pelo Si Fu, algo chamou de modo especial a minha atenção: como eu executava meus movimentos e o que isso diz sobre mim. Durante muitos anos executei movimentos marciais de forma fragmentada, como se meu corpo não fosse um todo harmonioso, e na realidade não era mesmo. Não conseguia pensar sobre meu pé na hora do soco, ou no papel do braço na hora do chute, assim como todo o resto do meu corpo, respiração e tudo mais. E por mais que esta consciência já tenha chegado algum tempo, a prática faz o corpo gerar um outro nível de compreensão, que apenas o intelecto, o raciocínio puro sobre tudo isso, não é capaz de fazer florescer.

     Quando me vi na prática com meu irmão Kung-Fu, lançando sobre mim mesmo um olhar mais atento, fui capaz de perceber o quanto durante muito tempo, eu atuava desconectado comigo, e como esta falta de cuidado com minhas ações me foram prejudiciais em qualquer área que atuasse.

     Uma vez Si Fu me disse: " Roberto, quando chegamos a algum lugar, o olho chega primeiro". E eu só conseguirei perceber o cenário a minha volta, seja favorável ou adversário na figura de uma pessoa ou de uma circunstância, se eu antes for capaz de olhar pra dentro primeiro e me reconhecer. Assim, serei capaz de oferecer o meu melhor como resposta, a minha forma legítima de atuar.   

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Marcialidade.

 Si Fu reúne Discípulos para Aula Fundamental.

"Assim, a marcialidade atua como uma força, uma torrente que 

faz lavar tudo aquilo que está sobrando".

Mestre Senior Julio Camacho.


     Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho realizou no dia de hoje o segundo encontro sobre Estudos dos Fundamentos do Sistema Ving Tsun. Neste Encontro, tratamos do Tema Marcialidade. 

Passando pelo deus grego Ares, aquele que cobria a própria cama com a pele dos homens que matava, ao deus romano Marte, podemos notar a diferença que há entre uma agressividade não refinada e uma outra capaz de ser personificada no brocado latino: "legio omnia vincit" (a Legião sempre vence).

     A agressividade é algo que se manifesta para qualquer direção, podendo atrair consequências boas ou ruins. Pode se manifestar na forma de maus tratos ou quando temos um objetivo a ser conquistado. Quando canalizada, ela é Marcialidade.

     Pensar em Marcialidade de uma forma romântica é sinal de um Kung Fu imaturo, porque uma das formas e mensurar maturidade marcial, é saber avaliar consequências. Atitudes impulsivas, carreadas de agressividade inconsequente, traduzem falta de marcialidade, porque, na maioria das vezes, atos impensados geram resultados indesejados e difíceis de serem administrados. 

   Um Kung Fu se mostra maduro quando capaz de prefigurar os cenários oriundos de sua ação. Desta forma, a agressividade direcionada, vai apontar para onde o estrategista vê melhor resultado, ao invés de, ao descontrole, ver sua agressividade conduzi-lo à álea, da boa sorte ou do infortúnio. 

     Falar em Marcialidade é falar na justa medida, nem mais nem menos, apenas o adequado para a excelência da ação.



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Quanto menos automático melhor.

Si Fu reúne Discípulos para reunião de Alinhamento.


 O Ving Tsun é um Sistema de variação. Para que atuemos com Kung Fu dentro do Sistema, nada deve ser fechado, tudo é ajustável, afinal os cenários são dinâmicos e se modificam à todo momento, e é justamente a capacidade de adaptação com excelência à situações novas que identificam um praticante avançado de Kung Fu. 

Na reunião de hoje, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho apresentou para nós algumas considerações sobre o cenário atual. E justamente em momentos considerados desfavoráveis como os atuais, tempo de pandemia e recentemente uma guerra que pode atingir dimensões à níveis mundiais, que o Kung Fu dos indivíduos tem mais possibilidade de desenvolvimento, exatamente por imposição dos fatos à capacidade de adaptação.

Com este breve intróito, passo a um resumido relato sobre os temas que foram tratados na reunião de hoje. 

O primeiro deles foi sobre as duas faces de um Mo Gun (Casa de Guerra, local de prática). Há uma primeira característica que é a interna, que está ligada à relação familiar. É o espírito que move a união dos membros, a Família Kung Fu. A segunda característica é a externa, está ligada à função exercida pelos locais onde ocorre a transmissão do Ving Tsun: os Centros de Transmissão.

 O mais básico deles é a Unidade Vinculada, onde se pratica o Nível Fundamental (se desenvolvem os aspirantes à membro). Esta Unidade é sempre vinculada à um Núcleo.

No Estúdio ocorrem as práticas dos Níveis Fundamental e Experiencial, e por fim, os Núcleos onde se desenvolvem ambos os níveis anteriores e também os Níveis Tradicionais do Sistema Ving Tsun. 

Si Fu também esclareceu sobre as Sedes da Família e do Clã. Ambas são identificadas pela presença dos respectivos Jiu Paai, (vertical o da Família e horizontal o do Clã) e a escolha dos locais passam pelo critério estabelecido pelo Si Fu.

Por fim, as Comitivas para a residência do Si Fu nos EUA, possuirão preferencialmente a seguinte configuração: grupos de quatro Discípulos a cada semestre do ano. As práticas do Nível Superior Final serão feitas na Casa do Si Fu, pessoalmente com ele. Uma comitiva encontrará Si Fu na Florida para acompanhá-lo à Nova Iorque para o Aniversário do Si Taai Po, Helen Moy, na primeira semana de dezembro.

Em abril, antes do Carnaval deste ano, Si Fu estará no Brasil para um Evento de três dias (sexta, sábado e domingo) e as reuniões serão abertas ao público. Uma grande oportunidade para convidados conhecer um Mestre de Carreira Internacional. Si Fu programa estar no Brasil, em média, num intervalo de 10 semanas a cada visita. Uma grande oportunidade para matarmos a saudade e desenvolvermos nosso Kung Fu.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Harmonia interna e zelo.






Si Fu me orienta durante prática. Núcleo Barra da Tijuca 2018.



Entre os ensinamentos que recebi de meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, está a importância de canalizarmos nossa agressividade para algo positivo, para um objetivo que desenvolva nossa humanidade. Seja agressivo no empenho ao estudo, ao trabalho, aos objetivos que lhe proporcionem ganho em aprendizado. Essa agressividade canalizada, é uma expressão de Marcialidade. Quando ela é canalizada para um ponto, na linha central, isto é Ving Tsun.
Desta forma, creio ser interessante pensar no Chi Sau para além de uma prática de desenvolvimento técnico, e vê-lo como uma oportunidade de autoconhecimento, através da experiência vivida com outros praticantes. É uma espécie de espelho que se coloca diante da pessoa, mostrando quem ela é, e qual é a sua capacidade de se relacionar quando colocada em cenário de crise. Todo o (des)equilíbrio vai aparecer, será expresso corporalmente, de modo que, sucessos e frustrações, medo e coragem aparecem como fossem o transpirar da pele. E para além disso, a forma como são tratadas as pessoas, o saber ouvir, aderir, ou pelo contrário, a tentativa de impor ideias e padrões de comportamento, incluso aqueles que o próprio agente nem percebe em si mesmo, serão desvendados no Chi Sau.
A considerar estas minhas observações, creio que através da prática das Sequências dos Níveis do Sistema Ving Tsun, momento em que se pode praticar sozinho, seja um ganho de oportunidade para uma busca de harmonia interna, e o resultado desta busca é muito bem "testada" na prática do Chi Sau, há um fator externo, uma outra pessoa, e pela dinâmica da prática, ambos "perturbarão" esta harmonia em  benefício mútuo. O Chi Sau tem o condão de sinalizar em que ponto os praticantes se encontram dentro do Sistema, e o companheiro de prática é a pessoa que vai te ajudar a se reconhecer, a compreender o quanto ainda é necessário buscar sua harmonia interna, e espelhá-la na forma de um equilíbrio harmônico com o outro.
Nestas breves linhas, dividi o quanto considero importante buscar a harmonia interna para que se possa ter uma relação equilibrada com as outras pessoas, em todas as nossas relações, e aproveitar o Chi Sau como um laboratório e nunca um fim em si mesmo, ressignificando os golpes recebidos e desferidos. O primeiro não como resultado de uma "falha técnica", e nem o segundo como a expressão de um estágio superior, mas ambos como um retrato, a percepção sobre si e sobre o outro, traduzindo a colaboração no desenvolvimento do seu companheiro de prática, como expressão do seu próprio.