domingo, 28 de fevereiro de 2021

Aproximar e afastar.

Si Fu fala aos presentes durante Colóquio.


 Na noite de quinta feira passada, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho coordenou mais um Encontro on-line com a Família Moy Jo Lei Ou. Desta vez foi realizado um Colóquio, e seguindo o formato, a liberdade dos temas propostos gerou perguntas sobre diversos temas, os quais Si Fu comentou um a um.

Esta postagem se refere a um deles: sobre um dos aprendizados que retiramos da prática com o boneco de madeira, o Muk Yan Jong (樁)sobre aproximar e afastar. 

O boneco de madeira não se desloca,  e embora exista um certo "jogo" que auxilie o aprendizado, ele não anda, e por não sair do lugar, obriga ao praticante executar certos movimentos em função do boneco, ou seja, só é executado por causa dele.

Trazendo essa necessidade também para as relações humanas, podemos pensar o quanto muitas vezes precisamos compensar com a nossa ação, por causa da incapacidade do outro. A prática com o boneco de madeira, quando nos aproximamos, afastamos, angulamos, nos mostra o quanto a excelência é alcançada nos mais diversos cenários, exatamente quando consideramos o outro, em seus limites e potenciais.

É uma experiência reveladora, mostra muito sobre o quanto se aprende ao se respeitar e dividir uma experiência com quem "sabe menos". O praticante que não respeita o boneco, um ser inanimado, um tronco de madeira suspenso, se torna o "bobo da história" não conseguindo extrair proveito do grande potencial deste estudo. 

A relação com o boneco é um bom laboratório para refinarmos as nossas relações por toda a vida. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Um Golpe, uma Morte.




Sessão de terça à noite. Si Fu orienta seus Discípulos do Nível Superior Final.





Quantas oportunidades são perdidas na vida, pela falta de compromisso com a excelência na execução daquilo que fazemos? Quantas vezes precisamos repetir movimentos por falta de monitoramento, de uma atenção cuidadosa? 
Eu resolvi fazer um teste comigo, para conseguir ser capaz de responder a estas perguntas. Passei a guardar meus objetos sempre em um mesmo lugar: a chave do carro, um livro, etc. Embora seja uma atitude extremamente simples, notei a diferença que dá para quando eu não fazia isso, e como esta era uma entre as várias formas de externar a minha falta de compromisso com a qualidade e precisão nas minhas ações.




Eu portando o Ving Tsun Do. Foto: Núcleo Ipanema.  


O sucesso ou o fracasso são gerados por nossas atitudes diante de tudo, e se não sou preciso nos gestos mais simples, sofrerei consequências maiores sem dúvida, quando o meu posicionamento for testado em circunstâncias mais complexas. 
Não é necessário ser mais inteligente ou mais habilidoso do que a maioria dos seres humanos para ser alguém bem sucedido na vida, mas existe um ponto que é essencial: o de como eu me posiciono diante daquilo que preciso executar. 
O Kung Fu fala de dedicação em busca da excelência, afinal ser um homem de Kung Fu não é ser um homem comum. E quando digo não ser comum, não me refiro aqui a alguém que seja superior a quem quer que seja, mas sobre alguém que através de seu posicionamento diante da vida, consegue dar uma diferença, um ponto positivo capaz de ser notado por todos à sua volta.
Mas onde encontramos esta precisão a ponto de que este diferencial seja uma expressão pura, uma síntese de nós mesmos?




Si Fu em uma transmissão do Nível Superior Final com seu Discípulo Rodrigo Moreira, observado por seus Discípulos, André Almeida, Roberto Viana e Leonardo Reis (da esquerda para a direita). 


O Nível Baat Jaam Do, deixa claro ao praticante qual a consequência de se ter falta de precisão na execução de seus movimentos. O cenário, é você apontando duas facas para alguém que aponta uma outra arma (pode ser igualmente duas facas) na sua direção. Neste cenário de Combate simbólico, fica evidente a alusão de que você só precisa de um golpe, para matar ou morrer. 
Ao posicionar-se diante da vida tendo como referência um cenário assim, eleva-se o grau de atenção e compromisso com a execução daquilo que se faz, percebe-se com mais clareza as circunstâncias que se apresentam, sem julgá-las como positivas ou negativas, são apenas oportunidades de aprendizado.
Não há tempo para reclamar ou "culpar a vida", o tempo vai passando, tudo vai acontecendo e você deve ser ativo no processo se aproveitando dele, e não reativo por conta daquilo que acontece, como se fosse uma vítima daquilo que o circunda.
Percebe-se melhor a morte como a sequência de algo que tem início meio e fim, e não apenas um processo biológico onde as funções vitais falecem. Porém é exatamente quando esta finitude que a vida tem, é apresentada através de uma prática como esta do Nível Superior Final do Sistema Ving Tsun, se mostrando tão perceptível, aflora-se a importância que há na execução precisa daquilo que se faz na vida. Apresenta ao praticante tudo aquilo que morre por sua falta de compromisso e precisão, seja na defesa de seus valores, seja na defesa de seus sonhos. 
Um único golpe preciso pode fechar um processo e matar algo que nos incomoda, assim como a falta dele pode nos perpetuar acorrentados naquilo que nos faz mal, por não termos a coragem de matar isso em nós. 
Um golpe mal executado pode ser um aprendizado para refinarmos nossa precisão para a próxima, como também pode gerar uma perda de oportunidade que jamais se repita. São cenários extremos que exigem atenção e objetividade.
Meu Si Fu nos transmite tudo isso. Com duas facas nas mãos.  



    
Si Fu transmite sessão do Nível Superior Final, com seu Discípulo Guilherme de Farias, observado pelos Discípulos, Leonardo Reis, Pedro Corrêa e Cláudio Teixeira (ao fundo, da esquerda para a direita). 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Irmãos Kung Fu.

 Meu Si Fu e Si Sok Úrsula Lima: Primos na Família de sangue, irmãos na Família Kung Fu.




A História da Família Kung Fu de meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, tem com certeza muitos capítulos escritos com a participação especial de sua irmã Kung Fu mais nova, a Si Sok Úrsula Lima. 
O pioneirismo de meu Si Fu desenvolvendo o trabalho da Moy Yat Ving Tsun Marcial Inteligence no Rio de Janeiro, representando seu Si Fu, Grão Mestre Leo Imamura, teve como personagem de grande relevância em apoio ao seu trabalho, a minha Si Sok. 
Eu e muitos de meus irmãos Kung Fu tivemos o privilégio de tê-la bem próxima à nós, tutorando nossas sessões personalizadas, orientando questões administrativas, competências que ela desenvolveu e que certamente lhe foram muito úteis quando da Formação da sua própria Família Kung Fu.




Si Sok Úrsula Lima recebe de Grão Mestre Leo Imamura seu Jiu Paai.




Ao se tornar a primeira mulher Mestre titulada pela Moy Yat Ving Tsun Martial Inteligence, Si Sok Úrsula Lima escreveu definitivamente o seu nome com destaque na galeria de Mestres formados por Grão Mestre Leo Imamura. A sua ligação à Família Kung Fu de meu Si Fu, faz dela também uma figura de importância destacada na história do Clã Moy Jo Lei Ou.
 




Si Sok Úrsula e eu durante sua visita ao Núcleo Barra da Tijuca do Clã Moy Jo Lei Ou.




 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Canalizar a Marcialidade.


Si Fu orienta seus Discípulos na prática de hoje. 



"Eu gosto do impossível, porque lá a concorrência é menor."

Walt Disney.


 Uma das experiências mais ricas da minha vida foi ter tido a oportunidade de aprender com meu Si Fu sobre a boa agressividade. Não se trata de agredir o outro, pelo contrário, esta é a face ruim. Quando você canaliza sua agressividade, sua energia para algo positivo, aí há marcialidade.

Alguém que seja bem sucedido, seja no trabalho, relação familiar ou em qualquer outra área de sua vida, é uma pessoa que soube usar sua agressividade para algo positivo, apontando para bons objetivos, alcançando a marcialidade. E quando canalizamos esta marcialidade em um único ponto, aí temos Ving Tsun.

Um homem de Kung Fu não é apenas um exímio reprodutor de movimentos, mas alguém que faz tudo com excelência, seja o mover de uma xícara de chá até a boca, seja a construção  um prédio. 

É sobre estar atento às oportunidades e pronto para quando elas surgirem, é sobre dar o seu melhor a cada coisa que faça na vida. 

É sobre defender seus valores, buscar a excelência e atuar com refinamento e precisão. Canalizar a marcialidade, é um encontro com o que há de melhor dentro de si mesmo.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Não seja dummy.

Si Fu orientando a prática de hoje.


 Meu Si Taai Gung, o Patriarca Moy Yat, dizia que quando praticamos com o boneco de madeira, o Muk Yan Jong (樁) um dos dois, o praticante ou o boneco será o dummy (idiota). Afinal, ou você controla o boneco com o refinamento do seu Kung Fu, ou você "apanha" dele o tempo todo. 

Durante nossa prática de hoje, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, nos disse que no Nível Superior Final, Baat Jaam Do ( 刀)ambos os praticantes correm o risco de fazerem este papel.

Isto porque o grau de atenção e respeito ao ponto de encontro com o movimento do oponente deve levar  em consideração que agora o que está em jogo é o encontro de duas armas. A premência de morte, um dos princípios trabalhados durante todo o Sistema Ving Tsun, encontra neste Nível, sua expressão mais direta, mais visível, uma vez que a arma é um instrumento de morte. 

Eu vejo o Baat Jaam Do como uma possibilidade de enfrentar muitas das minhas limitações em um cenário que me obriga ser atento e preciso, é uma experiência muito rica e transformadora.

Orientado por meu Si Fu, praticando e aperfeiçoando cada movimento, estou certo de que conseguirei a cada dia, gerar mais e mais benefício para mim, e sendo um homem de Kung Fu, afastarei a possibilidade de ser um "dummy" não apenas na prática do Ving Tsun, mas em qualquer área na minha vida.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Educar o Kung Fu.

Foto Oficial Si-To de meu Baai Si. 

 

"Educar não é ensinar respostas,

educar é ensinar a pensar".

Rubem Alves.

    

 

O estudo do Kung Fu não segue a lógica Ocidental de perguntas e respostas, do conhecimento que encerra um fim em si mesmo. Ele é um trabalho dedicado para o desenvolvimento de cada pessoa, e desta forma, ele promove um encontro do praticante consigo.

   Não é nada fácil você se ver quando precisa eliminar impurezas, e como todos nós precisamos, o Kung Fu se torna um desafio a ser enfrentado por todos aqueles que desejam se desenvolver em todo o seu potencial, mas como o preço é ver-se em todas as suas facetas, boas e más, posso dizer que praticar Kung Fu embora seja para qualquer pessoa, não é para qualquer um. 

   É preciso muita coragem e força de vontade para enfrentar a si mesmo, não apenas reconhecer os seus limites, mas respeitá-los para, só assim, superá-los de uma forma consciente, madura e definitiva.

   Eu não trilho este caminho sozinho, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho me orienta para que eu remova todas essas minhas impurezas e possa desenvolver todo o meu potencial. Confesso que me vi várias vezes nas palavras de meu Si Fu e de tudo que ele já me disse até hoje, afirmo que ainda tenho um bom caminho pela frente.

   Quando praticamos o Kung Fu, nossos movimentos, nossa entrega, nossa precisão, falam muito sobre quem somos naquele momento, em que nível está nosso desenvolvimento. Eu tenho muita sorte em ter meu Si Fu para me orientar naquilo que preciso melhorar, lançando seu olhar de Mestre sobre mim, me ajudando a refinar, a educar meu Kung Fu.