segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Sequência.

                              Minha Admissão na Família Kung Fu. Apresentando Sequência Siu Nim Do.




 Você por acaso já iniciou algo que considerava importante e, de repente, viu aquilo que acreditava ser algo muito bom, aquilo que foi destinatário do seu empenho por muito tempo, perder-se de você, e não ser a preparação de um segundo momento valoroso para sua vida?  

Se a resposta for sim, você não está sozinho. Porém, este Papo Kung-Fu vai falar sobre como esta tomada de consciência, unida à prática do Ving Tsun, despertou em mim não apenas a certeza da importância de dar o devido valor ao esforço que já fiz, mas para além disso, ter feito dele uma preparação para viver dentro dos valores que vivo hoje, e fazer com que a soma de tudo aquilo que o primeiro movimento desencadeou, venha a se apresentar como uma sequência lógica.




                                               Prática de Domingo: Antigo Estúdio Barra.



O próprio significado da palavra sequência: "ato ou efeito de dar continuidade ao que foi iniciado" alude para a atitude de fazer de cada passo que damos na vida uma preparação, e o seguinte, um resultado conexo. 

As sequências no Sistema Ving Tsun apresentam movimentos que não são um fim em si mesmos, eles despertam a consciência do corpo para que através daquelas se adquiram competências que desencadeiam o processo de desenvolvimento do praticante. 

Pensar nos movimentos apenas com aplicações para "a luta" é perder o que a sequência oferece de melhor: despertar a consciência corporal e para além disso, compreender como um movimento anterior é fundamental para a realização do próximo. Não existem quebras, não se tratam de "movimentos isolados" como se cada um fosse um fim em si mesmo. O anterior prepara a chegada do próximo, formando um desencadeamento lógico.  

Quando aplicamos em todas as áreas das nossas vidas, uma postura com este espírito, sendo os movimentos seguintes carreados pelos anteriores, atuamos com mais qualidade, alcançamos resultados mais eficientes. Valorizamos nosso esforço, compreendemos que todas as nossas atitudes apresentam consequências e que uma postura madura de um praticante de  Kung Fu respeita seus movimentos a tal monta que, compreende serem eles o prenúncio dos próximos, de que estão todos conectados.

É o trabalho de lançar a semente e cuidar do broto que irá, com o tempo, gerar a flor e o fruto da árvore. E assim, como a consequência do germinar é a árvore, a sequência traz um resultado completo, através do que cada movimento faz, por ser ele o fim do anterior e começo do próximo. 

Assim  não há gasto inútil de energia, tudo o que fazemos tem um objetivo claro, e uma sequência lógica. Ela é o agora, vinda do antes, e que aponta o depois.




                                          Si Fu e eu: Evento em Restaurante no bairro da Tijuca.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Do treino ao estudo.


Si Fu transmitindo o Nível Baat Jaam Do.


Hoje ouvi do meu Si Fu: "mais do que treinar, você deve decupar os movimentos." Esta divisão em sequências, como se fossem planos numerados para facilitar a gravação de um filme, é este o espírito daquilo que meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, me propôs para o estudo das partes que integram a sequência do Nível Baat Jaam Do. 

A escolha daquele verbo para traduzir com qual ânimo é adequado desenvolver a prática foi cirúrgica. Neste nível, não se pode tentar isolar os movimentos sem prejuízo à sua lógica que é a de algo contínuo, não pode ser fracionado por se tratar de "pedaços" dentro de uma lógica de síntese.

Assim como as cenas de um filme formam uma única história, assim os movimentos realizados com o Do, narram algo que não cabe fragmentar.



Eu e Rodrigo Moreira praticando o Do.



E dentro desta unicidade existem fragmentos de posições, energias, todas unidas formando algo uno, devendo ser respeitada a lógica dos movimentos, o emprego adequado das energias e estruturas que se desencadeiam se completando em um todo harmônico. Com todas estas variáveis para se considerar, não cabe falar apenas em um treino com repetição de movimentos para que se chegue à execução. Há na verdade um estudo, uma busca de lapidação de movimentos, que unidos, integram a formação de um sistema harmônico.













 

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

As etapas do fim.


Si Fu apresenta os movimentos como processo contínuo.


 Quando falamos sobre o fim de alguma coisa, é quase intuitivo pensarmos em um evento específico em determinado momento. É como congelar o tempo em um episódio, atribuindo-lhe a marca de consequência, aquilo que assume uma passividade quase fatalista, inevitável, sempre o resultado direto de algo.

Pensando desta forma, o fim fica isolado como um ponto a ser alcançado, apresentado como objetivo e não como uma parte atuante do processo de execução.

 Poderíamos pensar no fim, dando-lhe um papel mais interessante? Creio que sim. 

A prática do Kung Fu me permitiu pensar "fora da caixa" e compreender algumas coisas, e entre elas, está o processo dinâmico dos movimentos. Quando eu separo começo, meio e fim, fico obnubilado para perceber as possibilidades que as transições podem oferecer como objeto de estudo. Pensar em momentos estanques me furtam a possibilidade de estudar as emendas, os fragmentos que se unem para formar o movimento completo. Entender o processo como algo único, estudando cada ponto, cada detalhe, não separando nada, mas compreendendo que é esta unidade que refina, que educa e dialoga com o corpo, tem sido para mim um objetivo a ser alcançado e uma leitura que começo a particularizar na construção do meu Kung Fu.



                                                Si Fu e seus Discípulos do Baat Jaam Do.



Quando assisto a um bom filme e me decepciono como ele é encerrado, entre as várias hipóteses para meu descontentamento aponto duas: ou as últimas cenas tiveram tamanha desconexão com a história que rouba boa parte da qualidade artística do que foi exibido, ou eu não entendi o enredo do filme direito.

 Com a execução dos movimentos, em particular do Nível Baat Jaam Do que pratico atualmente, se a "história que eu conto" através dos meus movimentos não fazem sentido para mim é porque ainda não entendi o "filme". Desta forma, o fim não está lá ponta dos acontecimentos, ele vem acontecendo o tempo todo, preciso "voltar as cenas" e no Ving Tsun isso significa  encontrar respostas no próprio Sistema, revisitando sempre os Níveis. 

Reproduzindo a frase do meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho: "tudo está lá, você que ainda não estava preparado para ver."

É uma outra forma de ver o fim: ele é aquilo que encerra e inicia o tempo todo. 



segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Saber ler o que se vê.











             
Si Fu durante Seminário do Programa Fundamental. 




 Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, disse na prática de hoje: "Quem inventou o ilusionismo foram os chineses (...) é preciso saber para onde se olha." 

Quanto mais se avança no Sistema Ving Tsun, maior é o desafio para que se olhe na direção daquilo que realmente deve ser visto. Quanto mais tempo se vivencia, vai ficando menos explícito o que se transmite, é necessário que seja assim, por ser o olhar atento uma característica intrínseca ao amadurecimento do Kung Fu.

É um processo de desenvolvimento humano, e desta forma, adquirir esta maturidade dentro da prática, é um reflexo da própria vida, afinal ter uma visão mais apurada, é característica comum a quem já vivenciou determinada experiência, se dedicando ao seu estudo por mais tempo.



                          Si Fu orienta dois Discípulos.      

    

Comparo esta experiência ao uso de um microscópio: muitas coisas não podemos ver a olho nú, de forma que aquele instrumento óptico nos dá a condição de enxergarmos aquilo que nossos olhos não podem ver sozinhos. E com a prática dentro do Sistema Ving Tsun, é como se meu Si Fu me fornecesse este instrumento que amplia a visão, mas ainda assim há um grau de responsabilidade apenas meu; afinal se eu fizer uso de um microscópio e não ajustar no foco correto, ele não será útil. Da mesma forma, é com a prática daquilo que é transmitido que "a minha lente" estará ajustada no grau correto.  Apenas com o estudo dedicado e estando sempre atento ao que meu Si Fu diz, é que desenvolverei a competência de olhar para o que importa, fazendo a leitura correta do que vejo, sendo coautor na construção do meu Kung Fu. 


                                   

             Almoço entre irmãos Kung Fu.