Quando falamos sobre o fim de alguma coisa, é quase intuitivo pensarmos em um evento específico em determinado momento. É como congelar o tempo em um episódio, atribuindo-lhe a marca de consequência, aquilo que assume uma passividade quase fatalista, inevitável, sempre o resultado direto de algo.
Pensando desta forma, o fim fica isolado como um ponto a ser alcançado, apresentado como objetivo e não como uma parte atuante do processo de execução.
Poderíamos pensar no fim, dando-lhe um papel mais interessante? Creio que sim.
A prática do Kung Fu me permitiu pensar "fora da caixa" e compreender algumas coisas, e entre elas, está o processo dinâmico dos movimentos. Quando eu separo começo, meio e fim, fico obnubilado para perceber as possibilidades que as transições podem oferecer como objeto de estudo. Pensar em momentos estanques me furtam a possibilidade de estudar as emendas, os fragmentos que se unem para formar o movimento completo. Entender o processo como algo único, estudando cada ponto, cada detalhe, não separando nada, mas compreendendo que é esta unidade que refina, que educa e dialoga com o corpo, tem sido para mim um objetivo a ser alcançado e uma leitura que começo a particularizar na construção do meu Kung Fu.
Si Fu e seus Discípulos do Baat Jaam Do.
Quando assisto a um bom filme e me decepciono como ele é encerrado, entre as várias hipóteses para meu descontentamento aponto duas: ou as últimas cenas tiveram tamanha desconexão com a história que rouba boa parte da qualidade artística do que foi exibido, ou eu não entendi o enredo do filme direito.
Com a execução dos movimentos, em particular do Nível Baat Jaam Do que pratico atualmente, se a "história que eu conto" através dos meus movimentos não fazem sentido para mim é porque ainda não entendi o "filme". Desta forma, o fim não está lá ponta dos acontecimentos, ele vem acontecendo o tempo todo, preciso "voltar as cenas" e no Ving Tsun isso significa encontrar respostas no próprio Sistema, revisitando sempre os Níveis.
Reproduzindo a frase do meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho: "tudo está lá, você que ainda não estava preparado para ver."
É uma outra forma de ver o fim: ele é aquilo que encerra e inicia o tempo todo.
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