quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Checagem: Construindo a Excelência.


Aula Master para a Triologia Fundamental.


     Na aula Master de hoje, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, transmitiu conhecimentos sobre os três Níveis iniciais do Sistema Ving Tsun. Ao fazer breves comentários sobre Siu Nim Tau, Cham Kiu e Biu Ji, um ponto em comum  chamou minha atenção: a checagem. 

     Si Fu esclareceu à todos os presentes sobre a importância de checar cada movimento para que o corpo compreenda o que se pode extrair de cada um deles . As sequências dos Níveis são objetos de estudo e não apenas movimentos coreografados, e realizá-los de forma precipitada, sem a compreensão de como cada movimento é a preparação para o próximo, é como correr sem controle, é perder a oportunidade de apreciar o material de estudo.



Fernando Pinheiro: prática do Siu Nim Tau.


     Há na prática das sequências dos três níveis, uma gradação quanto aos graus de checagem. O Siu Nim Tau prepara para o Chan Kiu, e este nível possui muitos dispositivos de checagem, de pontos de verificação. Ele é igualmente uma preparação para o Biu Ji, que deve começar de imediato, de forma bombástica, sem tempo para justificativa. O que não significa que não exista a checagem, a diferença é que o Nível Superior Inicial tem dispositivos corporais que, por sua natureza, deixam ainda mais evidente sobre como está o Kung Fu do praticante com relação aos Níveis anteriores. Esta característica é fundamental para compreender como é importante a passagem de Nível: para que se torne mais claro ao praticante como está a sua expressão pessoal com relação aos Níveis anteriores. Ao revisitar, praticar e checar cada Nível,  joga-se uma lente de aumento, que irá enriquecer o Kung Fu. 

     E realizando um paralelo com qualquer coisa que fazemos na vida, muitas vezes, quando algo "não deu certo" é porque provavelmente não checamos como deveríamos. Fazendo tudo de qualquer jeito dificilmente teremos um bom resultado. 

     A prática constante de lançar um olhar atento a tudo, de realizar com excelência, do ato mais simples ao mais sofisticado, checando o tempo todo, estando presente a cada movimento realizado na vida, é uma ferramenta valorosa na busca da excelência.



Antônio Henrique  (frente) e Carlos Antônio (ao fundo). Prática de Cham Kiu.







terça-feira, 12 de outubro de 2021

Não se defenda.


Si Fu orienta Discípulos durante Aula Master.


      A atitude mental de um praticante no Nível Superior Final deve ser diferenciada. Como já disse algumas vezes meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, arma não é para criança, e no Baat Jaam Do (刀)temos duas facas apontadas. Isso é essencial que se compreenda, porque quando não estamos preparados para enfrentar os desafios colocados à nossa frente, o que muitas vezes acontece pelo simples fato de termos negligenciado nossa preparação, (ainda que tenha havido tempo suficiente para tal) a pior coisa que se pode fazer, é buscar se defender, culpar alguma coisa ou alguém. 

     Em particular, é algo que tenho buscado vencer. Durante muito tempo me acostumei a culpar tudo, menos a mim mesmo. Com ensinamentos do meu Si Fu, tenho compreendido como é importante não culpar nada, assumir minha culpa, mas não sofrer com ela, pelo contrário, usá-la como aprendizado para refinar minha ação. 

     Além de estar insistindo em um auto engano, quem entra no modo defesa, culpando tudo menos a si mesmo, não aproveita em nada do ocorrido para aprender e a partir daí mudar de atitude, afinal, como buscar um resultado diferente cometendo os mesmos erros? Uma faca vindo na sua direção não lhe daria tempo para desculpas, muito menos se importaria com elas. 

     A cada Aula Master com meu Si Fu, tenho a oportunidade de colocar diante de mim um espelho, e enxergar mais que meus limites, vislumbrando cada vez mais, a oportunidade de aprender com eles, o quanto falam sobre mim, e para qual direção devo apontar minhas ações, na superação dos meus obstáculos. Si Fu disse hoje "a natureza não dá saltos" e são nas pequenas transformações que conseguirei evoluir,  sempre perseverando em meu aperfeiçoamento. 



Cláudio Teixeira e Pedro Correa: recebendo orientações do Si Fu.


    

 Abandonando o ímpeto defensivo, e encontrando nos limites uma oportunidade de aprendizado e evolução, encontro com mais clareza o caminho do meio. Em um cenário de combate, se ao invés de ofender com a faca ela for empregada para tentar defender, provavelmente perder-se a linha central e a consequência é ser atingido pela outra lâmina que vem ao seu encontro, e o resultado pode ser a morte.

     O praticante de Kung Fu em alto nível deve estrar pronto antes de atuar, pois quando a hora chega, sua ação deve ser a síntese da sua habilidade, materializada como a personificação conhecimento que já possui.

      Ele deve agir de forma fria e precisa. Como a lâmina de uma faca. 


terça-feira, 5 de outubro de 2021

A inteligência que o movimento carrega.

Si Fu orienta seus Discípulos durante prática do Nível Superior Final.


      Na prática de hoje, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, transmitiu à nós, seus Discípulos durante a prática do Nível Superior Final, a importância que há na compreensão dos movimentos. Um To Dai de  Kung Fu maduro não se limita a reproduzir movimentos corporais como se fosse uma espécie de coreografia marcial. Há uma busca de entendimento sobre como o próprio corpo se expressa legitimamente através de uma sequência lógica, manifestando sua expressão pessoal e tendo como objeto de estudo movimentos marciais.

     Saindo de uma simples reprodução sequencial de movimentos para uma lógica racionalmente coordenada, o praticante lança seu olhar e desenvolve seu intelecto sobre uma inteligência ancestral, recebida de seu Si Fu, legatário de uma secular tradição de Mestres. 

      A sequência do Nível Superior Final exige um grau de compreensão, que coloca um espelho diante do praticante, mostrando exatamente em que momento ele se encontra na caminhada de desenvolvimento de seu Kung Fu. É desafiador desenvolver o próprio corpo como uma unidade harmônica, onde um primeiro movimento desencadeia o próximo, estabelecendo um todo realizado pelas partes. As facas denunciam de forma absolutamente clara sobre quem é quem. 

      Um grupo de movimentos que devem ser a síntese daquilo que se tem como inteligência corporal, como Kung Fu. Tudo deve ser resolvido de forma pronta e precisa, não há tempo para hesitação, são duas facas apontadas, a resposta deve ser imediata, o resultado do encontro de facas, se traduz entre a vida e a morte, mostrando de forma definitiva, sem emoção e com precisão cirúrgica, onde está o momento do Kung Fu de cada um.    

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Você confia na sua faca?


Si Fu orienta seus Discípulos.


 "Não vemos as coisas como são, vemos as coisas como somos".

Anais Nin.


     Durante nossa prática de ontem, Si Fu falou sobre a importância de estar atento, tanto ao que se diz quanto ao que se vê. Uma atitude atenta em uma Família Kung Fu não se trata de uma atenção meramente  protocolar, a qual torna o ouvinte capaz de reproduzir as palavras, aquela está longe de ser um comportamento passivo. Na realidade, é uma atitude mental, uma postura ativa de adesão ao que se ouve, ao que se vê, de modo que a reprodução daquilo que se recebe como informação não é cópia, e sim uma leitura que é aclarada pela a experiência dos ouvidos bem abertos e do olhar bem atento, traduzindo toda a força das palavras em movimentos marciais. 

     Quando um Mestre fala, a nossa atenção deve ser redobrada, pois, afinal, ainda que ele aponte comandos claros para a execução de movimentos, existe uma Arte por traz de tudo o que se diz, e é exatamente a busca desta compreensão que difere um praticante de Kung Fu de um mero ouvinte.

     Esta experiência mais uma vez foi proporcionada por meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, durante a prática de ontem, a qual eu e alguns de meus irmãos Kung Fu pudemos, através de suas palavras e movimentos marciais, ter a oportunidade de mais uma vez sermos admoestados sobre a necessidade de não nos colocarmos apenas na condição ouvintes e sim incorporarmos o que se diz, aderindo e, a partir daí, podermos ampliar nosso nível de compreensão. 

     A sessão da qual participamos no dia de ontem, era sobre o Nível Superior Final, o Baat Jaam Do (   ), o estudo com as facas do Ving Tsun. 

     Se você dorme, você morre. Não se oferece neste momento da prática o mesmo tempo que é colocado à disposição do To Dai () para  se pensar ou executar o movimento como oferecido em alguns dos Níveis que o antecedem no Sistema. A natureza deste estudo exige uma resposta imediata e precisa, o que torna ainda mais crucial o estado de atenção elevado.

     Você confia na sua faca? Esta pergunta feita por nosso Si Fu é uma chave de leitura para compreendermos onde se encontra nosso estágio de desenvolvimento do nosso Kung Fu. Ela é na realidade também uma resposta e acima de tudo um espelho, que reflete ao praticante a imagem daquilo que seu Kung Fu realmente é capaz de realizar naquele momento. 

     Estas considerações apontam para a importância que há em um estado de atenção com tudo o que é transmitido por nosso Si Fu, o que é colocado à nossa disposição como aprendizado. Será na adesão daquilo que é dito, que se poderá retirar o proveito das palavras para que elas se transformem em movimentos, e estes não serão apenas os marciais, pois o perpétuo moto que é a vida, exige de nós atuarmos com excelência em todas as circunstâncias, dentro e fora do círculo marcial. É óbvio que não acertaremos sempre, mas um Kung Fu refinado nos auxilia a responder melhor a cada passo, a cada dia.

O processo de refinamento do Kung Fu acontece sempre que aderimos e retiramos o melhor proveito daquilo que ouvimos de nosso Si Fu. 

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Si Fu: 30 Anos de Vida Kung Fu.


Si Fu apresenta movimentos no Muk Yan Jong.


 Hoje é um dia muito especial para a História do Kung Fu do Clã Moy Jo Lei Ou. Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho completa 30 Anos de Vida Kung Fu. Se eu estivesse fazendo esta postagem há alguns anos atrás, certamente minha redação acompanharia a minha imaturidade, eu praticamente apenas relataria uma das várias qualidades do meu Si Fu: a sua extraordinária habilidade marcial. 

A minha sorte foi ter a chance de meu Si Fu me aceitar como seu Discípulo, e a maturidade da relação mostrar que para além de um Grande Mestre na arte do Combate, meu Si Fu é também um Grande Mestre na arte da Vida. Orientar as pessoas a se desenvolverem em todo o seu potencial, é uma marca registrada, do Mestre que há 30 anos iniciava sua caminhada como To Dai de Grão Mestre Leo Imamura, dentro da Família e hoje, Grande Clã Moy Yat Sang. Durante muitos anos, meu Si Fu se deslocou do Rio de Janeiro para São Paulo, com o objetivo de praticar com seu próprio Mestre, meu Si Gung. A longevidade desta relação, que é para a vida toda, é uma longa estrada, ou como eles mesmos dizem: "não é uma corrida de cem metros, é uma maratona", é uma Vida Kung Fu.

Acompanhando meu Si Gung em diversas viagens por vários países, meu Si Fu trouxe de volta como bagagem muita experiência vivida, através da prática com diversos mestres Mestres, ganhando reconhecimento internacional, este aliás, personificado em seu visto para residência nos Estados Unidos, onde mora desde 2020, um visto de Habilidades Extraordinárias.



Si Fu e Si Gung visitam o túmulo de Ip Man. Hong Kong 2009.



O Aniversário de um Si Fu é considerado o Evento mais importante do Ano em uma Família Kung Fu. Quando este Aniversário é de seu próprio Si Gung, Líder de um grande Clã, a magnitude deste Evento, é sem dúvida, histórica. A primeira vez que meu Si Fu foi ao Aniversário de seu Si Gung, Patriarca Moy Yat, realizado em Nova Iorque, todas as circunstâncias conspiravam para que ele não fosse, e seu Kung Fu lhe dizia, que não deveria desistir. Ele conseguiu. Quando lá chegou, Patriarca Moy Yat lhe perguntou se havia gostado de estar lá e se iria sempre. Si Fu disse sim, e cumpriu o que disse. Ele sempre nos deixa como lição: "que suas palavras tenham força". Com certeza ele pode dizer isso, e nos espelharmos nele como exemplo.



Si Fu caminhando em conversa com Si Taai Gung Moy Yat.


Não posso encerrar esta postagem sem deixar de contar uma passagem minha (entre várias outras) muito especial com Si Fu o que mostra a sua habilidade em ajudar as pessoas a encontrarem o seu melhor. 

Aos sábados, eram marcadas reuniões em uma padaria localizada dentro do Condomínio onde Si Fu morava, o Península na Barra da Tijuca. Sempre sentávamos no mesmo local, a mesa centralizada na varanda, uma parte externa no estabelecimento. Em um destes sábados, chego atrasado e vou direto para este local, sem perceber que, exatamente neste dia, Si Fu e meus irmãos Kung Fu presentes na reunião, estavam em outra mesa na parte interna. Ao encontrá-los participei normalmente da reunião. 

Mais tarde, quando já estávamos no Mo Gun (local de prática que pode ser traduzido como Casa de Guerra) Si Fu disse para mim:

-Roberto, quando chegamos em algum lugar, nosso olhos devem chegar primeiro. 

Essa frase tem grande lição de Kung Fu: não podemos ficar presos em paradigmas, não devemos estar em um local sem avaliarmos o que temos à nossa volta. E isto vale pra tudo na vida, seja na relação familiar, de trabalho, e claro, na luta. Uma desatenção pode significar até mesmo, a morte, a depender de como nos colocamos diante das circunstâncias. 

Certa eu perguntei para o Si Fu de como ele gostaria de ser lembrado pelas futuras gerações de Kung Fu. Ele me disse: 

-Gostaria de ser uma gota, diluída no Oceano de uma Tradição de Mestres. 

Não há dúvida da importância do meu Si Fu na transmissão do Legado do Sistema Ving Tsun. 

E o dia de hoje, em que celebramos seus 30 anos de Vida Kung Fu no Grande Clã Moy Yat Sang, é, parafraseando ele próprio, uma gota desta História, em que, ao aceitar a mim e a meus irmãos Kung Fu como seus To Dai, nos permitiu fazer parte dela.



Parabéns Si Fu!

 

 

Si Fu e eu na Celebração de seu Aniversário de 50 Anos. 

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Si Fu e as crianças


Si Fu apresenta o Programa Fundamental para crianças nos Estados Unidos.





"Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos:
ternura pelo que ela é, e respeito pelo que pode vir a ser".
Louis Pasteur.




     Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, foi convidado por um grupo que coordena atividades físicas em dezenas de Escolas nos Estados Unidos, e realizou a apresentação do Programa Fundamental do Clã Moy Jo Lei Ou.
      Os nossos valores são passados por nossos pais, famílias e experiências de vida. O Ving Tsun é uma ferramenta que auxilia a reconhecer e a defender nossos valores, pois através de movimentos de combate simbólico estimula a busca do autoconhecimento, das nossas limitações e dos nossos potenciais. 
     O nosso nome Kung Fu é a  representação de como somos vistos por nosso Si Fu, sobre nossa personalidade, estrutura física, uma leitura sobre quem somos. De meu Si Taai Gung, Patriarca Moy Yat, meu Si Fu recebeu o nome de Moy Jo Lei Ou, e como eu disse, o nome diz muito sobre ele.


 


O Programa Fundamental: uma ferramenta de desenvolvimento humano para todas as idades.

  

    Aquele que guarda o segredo Ancestral, é uma das traduções possíveis para o nome Kung Fu de meu Si Fu. A minha compreensão sobre seu nome, aponta para alguém que é conhecedor de um grande número de habilidades, e como as físicas são muito óbvias, aponto nesta postagem para algumas de suas habilidades com relações humanas. 
Meu Si Fu sempre nos fala sobre a importância de relaxarmos e sermos gentis; assim teremos um bom Kung Fu. Este ensinamento que recebeu diretamente de Si Taai Gung, tem sido a forma de identificarmos em que ponto, nós Discípulos do Clã Moy Jo Lei Ou guardamos identidade com nosso Si Fu e de fato o representamos. 
    E hoje este Mestre com mais de 30 anos de prática de Kung Fu, levou quem ele é, através de sua  humanidade, para as crianças com a prática do Programa Fundamental, um instrumento criado e desenvolvido por ele para apresentar o Ving Tsun, um primeiro contato que facilita a compreensão sobre esta grande Arte. 





                                                                                           
  O Lúdico e o Marcial juntos durante a prática.




      O Programa Fundamental, que pode ser praticado por qualquer pessoa de qualquer idade, e esta postagem conta um pouco sobre a visita de meu Si Fu à Escolas nos Estados Unidos, apresentando, muito além da prática, o que de melhor ele pode oferecer, que é a ele mesmo. Um praticante de Kung Fu, nunca deve ir à algum lugar sem deixá-lo melhor antes de sair dele. 
   As crianças representam a vida que se renova. E ver meu Si Fu, aquele que guarda o segredo ancestral, lançar uma semente de seu conhecimento para cada uma delas, me faz lembrar a frase de Leo Buscaglia: "A única coisa de valor que podemos dar às crianças é o que somos, e não o que temos". Ao ver as fotos desta postagem, estou certo de que elas receberam. 

      

 
     Conversa com Si Fu: momento em que ele oferece à todos a oportunidade de contarem suas experiências com a prática. 








domingo, 27 de junho de 2021

O Kung Fu da Família Moy Fat Lei.


Foto Oficial: Cerimônia de Discipulado da Família Moy Fat Lei.



 "O sonho que se sonha só

É só um sonho que se sonha só

Mas o sonho que se sonha junto é realidade".

(Prelúdio- Raul Seixas).

 

     Na maioria das vezes em que eu redijo ou leio o material de outras pessoas sobre a manifestação do Kung Fu, geralmente os relatos apontam para um único personagem, para uma expressão individual. Desta vez, farei diferente. Vou contar um pouco daquilo que tive o privilégio de testemunhar no dia de ontem; de como presenciei o Kung Fu se manifestar de forma coletiva através dos To Dai de meu Si Hing, Mestre Qualificado Thiago Pereira. O Kung Fu da Família Moy Fat Lei.

     Tive a honra de ser convidado, juntamente com meu irmão e meu primo Kung Fu, Cláudio Teixeira e  Heitor Furtado (Discípulo de minha Si Sok, Líder da Família Moy Lin Mah Mestre Senior Úrsula Lima), para uma Cerimônia de Baai Si na Família Moy Fat Lei, momentos de muita emoção e aprendizado, dentro do Sistema Tradicional de Ving Tsun.



Representantes de duas Famílias de Kung Fu no Evento: Moy Jo Lei Ou e Moy Lin Mah, juntos: Roberto Viana (à esquerda, Cláudio Teixeira, ao centro e Heitor Furtado, à direita). 


     Os Discípulos do Si Hing Thiago Pereira se reuniram, planejaram e executaram todos os procedimentos Cerimoniais de forma estratégica e com excelência, e a considerar a juventude da Família, nota-se ainda mais claramente a manifestação do Kung Fu deste grupo.

     É o resultado do trabalho dedicado do Líder da Família Moy Fat Lei, apresentando não apenas um grande resultado, mas acima de tudo uma marca, uma identidade.



Mestre Qualificado Thiago Pereira: Líder da Família Moy Fat Lei.


     A Cerimônia de Discipulado (Baai Si) contou com três participações diretas em dois momentos distintos. Primeiro tivemos a Cerimônia de Arthur José de Souza Júnior. Na sequência, outro instrumento de nosso Clã, a Cerimônia de Reafirmação Discipular, com os Discípulos Luiz Felipe Grativol e Caroline Arcanjo.

     Ouvimos do Arthur, sobre o que tempo poderá trazer para a relação Si-To, já de Luiz Felipe ouvimos sobre algumas de suas memórias junto ao seu Si Fu e de Caroline, o desejo de estar, a cada dia, fortalecendo seus laços como Discípula. 



Fotos Si-To: Arthur José de Souza Júnior, Luiz Felipe Grativol e Caroline Arcanjo.
                         


      Meu Si Hing aprendeu com nosso Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, sobre Vida Kung Fu, e do quanto podemos realizar e fazer a diferença na vida das pessoas através do Sistema Ving Tsun. E agora pode presenciar a manifestação de tudo isso, através sua própria Família, graças aos mais de 20 anos de conhecimento recebido através da convivência com nosso Mestre.

     E para mim, além da honra de ter presenciado uma grande Cerimônia, fica também mais uma vez a prova da materialização daquilo que tanto Si Hing Thiago quanto eu, aprendemos com nosso Si Fu: "para se ter um bom Kung Fu, basta relaxar e ser gentil".

 E para sermos verdadeiramente gentis, precisamos da relação com as outras pessoas como referência. 

A Família Moy Fat Lei é uma manifestação coletiva da gentileza. 



Almoço de Celebração: Reunidos com a Família Moy Fat Lei no Restaurante Chinatown no bairro da Tijuca.


  


   

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Combate Interno.

As escolhas difíceis requerem auto conhecimento.


      A palavra combate está associada à ideia de conexão, traduz a noção de que preciso do outro para que o combate exista. Mas, e quando o outro é você mesmo? Como enfrentar o desafio de derrotar as forças que atuam dentro si em seu desfavor? Pode a prática do Kung Fu ajudar a encontrar a resposta?

     O combate interno como interpretado no Ocidente, aponta para os nossos "inimigos internos", aquilo que as Sociedades de tradição judaico-cristãs convencionaram chamar de "nossos demônios". São conflitos estabelecidos entre a emoção e a razão, os desejos mais latentes em oposição aos nossos freios internos. A falta do auto conhecimento, gerando um comportamento reprimido, com sentimentos que não raro, conduzem à vergonha e a culpa.

     O combate interno Oriental se manifesta de forma diferente. É algo que vem de fora, os estímulos externos são internalizados e deles se retira o proveito. E digo isto por uma razão: na perspectiva do combate interno oriental, a experiência é o que importa, mesmo do infortúnio retira-se um grande proveito: o aprendizado. 



Prática com o Daai Si Hing Leonardo Reis.



     Na perspectiva Kung Fu aquilo que se aprende é o que realmente importa, é o que se ganha de conhecimento através de todos os  acontecimentos que darão a cada um deles o potencial de gerar benefício, ainda que tenham se originado do prejuízo, o que menos vai importar é se deu certo ou errado. Por mais que este ou aquele resultado imponham suas consequências, é o que se retira da experiência que irá apontar para qual direção o combate interno agirá como força motriz de  transformação. 

     O combate interno ocidental é reativo, sofre com os estímulos externos aumentando o conflito interno. Já o combate interno oriental é relacional, ele retira proveito dos estímulos, internalizando o que se pode aproveitar daquilo que aflora dos fatos. É um processo de auto conhecimento através de uma experiência desafiadora chamada vida. 



Si Fu coordenando um Colóquio.






terça-feira, 20 de abril de 2021

Si Hing Thiago Pereira: Um grande contador de Histórias.


 A Famíla Kung Fu é a reunião de pessoas vindas de diversos lugares diferentes, com talentos diferentes. Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, orienta à todos, para que cada um possa lapidar seus talentos, transformando essas "pedras brutas" em joias brilhantes. 

Esta postagem vai falar um pouco sobre um talento muito especial de um Si Hing, capaz de traduzir os relatos sobre nossa Linhagem com as cores de uma História em movimento, trazendo para a sua audiência as emoções e experiências daqueles que viveram cada época dessa jornada que, somada até a minha, contam doze gerações do Sistema Ving Tsun. 



Nesta foto, Si Hing Thiago narra sobre a contribuição de nosso Si Fu na confecção dos selos ancestrais, (Sam Wai) pedido feito diretamente por Patriarca Moy Yat.



Para contar bem uma História, não basta apenas conhecer e memorizar os fatos. É preciso ter o dom de abrir uma janela no tempo para que enxerguemos através dela, com a vitalidade que das palavras florescem. E isso ele faz muito bem. 

A dedicação do Si Hing Thiago Pereira ao Legado do Sistema Ving Tsun é para mim um bom exemplo do fruto do trabalho de meu Si Fu, que através de sua transmissão, ajudou a lapidar este talento nato de meu Si Hing.

Participei ontem do Encontro on line, organizado e conduzido por ele sobre Chan Wa Sun, Si Fu de Patriarca Ip Man, e mais uma vez, tive a oportunidade de assistir a dedicação, o trabalho cuidadoso e detalhado que lhe é peculiar, roteirizado com imagens, apresentação de nomes com os respectivos ideogramas, tradução dos termos em cantonês para a compreensão de todos, com o esmero que lhe é próprio, um trabalho realizado com Kung Fu.




Cena que retrata o Baai Si de Patriarca Ip Man aos 11 anos de idade.



A dissertação feita por ele vem sempre carreada com o coração junto das palavras. Como homem de Kung Fu que é, não se perde na emoção, não fantasia os acontecimentos, pelo contrário, compromete-se com a fidelidade histórica, ao mesmo tempo traduzindo para os ouvintes a poesia que transborda dos próprios fatos presentes em sua narrativa. 

E para aqueles que assistem a estes encontros , fica reforçada na memória, a importância do legado daqueles que um dia, ajudaram a construir esta Tradição de Mestres que trouxe até nós o Sistema Ving Tsun. 

E o que ainda é melhor, contada com a elegância do Kung Fu de quem, mesmo fiel aos fatos, consegue aquarelar a História.



Presente na minha História: Entrego o Chá ao meu Si Fu em meu Baai Si tendo como meu Gai Siu Yan o Si Hing Thiago Pereira.


quarta-feira, 17 de março de 2021

Memória Ancestral: O Passado que ilumina o Futuro.


Si Fu faz reverência aos Ancestrais. A memória viva na tradição do Sistema Ving Tsun.



 "A memória é a vida sempre carregada

por grupos vivos e, nesse sentido,

está em permanente evolução."

Eric Hobsbawn.


O meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, Líder do Clã Moy Jo Lei Ou, sempre nos alertou sobre a importância de empregarmos as palavras em seu sentido real. Muitas vezes ouvimos que algumas delas  são ditas fora do seu léxico, como se novos sentidos surgissem ao alvedrio de quem diz, esvaziando seu real significado, e contribuindo com um preconceito para com a palavra, por atribuir a ela, sentido que ela não tem.

Em nosso Clã, valorizamos a nossa tradição de gerações de Mestres, e não se trata de um olhar no retrovisor, porque na realidade é um olhar em perpétuo moto, que se renova e viceja através dos To Dai (alunos) a cada momento em que a listagem tradicional do Sistema Ving Tsun é transmitida. 

E por esta razão, a palavra tradição, não se limita à algo que vem do passado, pois seu sentido é o de entrega, e a cada vez que entregamos um saber, ele sempre se renova através daquele que  o recebeu. 



Si Fu e Si Gung: Duas gerações de Mestres do Sistema Ving Tsun.


Cultivar a tradição dentro de um Sistema de Arte Marcial não é estar preso ao passado, mas se alimentar com ele, tirando proveito daquilo que ele pode oferecer para beneficiar o presente e apontar para o futuro. Os desafios sempre existiram na História humana, e as experiências não existem para serem reproduzidas, mas podermos aprender com elas e aperfeiçoarmos nossas respostas, nos apoiando  naquilo que temos, e ao invés de paralisarmos, fazermos o nosso melhor a cada momento, da forma possível. Com o atual panorama mundial, por exemplo, que exige o afastamento social, fazemos uso da internet para trocarmos experiências, e continuarmos praticando. E isso é uma resposta com Kung Fu, que olha para o cenário e não se coloca como refém, mas retira dele a resposta para atuar.



Si Fu em reunião com as Lideranças do Clã Moy Jo Lei Ou.




A tradição é um processo impulsionado pela troca de conhecimento. Aquele que transmite, aprende e se aperfeiçoa a cada vez que divide o seu saber, exatamente por ser provocado pelas interrogações de seus tutorados. Aqueles que recebem e devolvem conhecimento através de seus questionamentos, movem o refinamento constante de todo este cenário. O que apenas reafirma ser a tradição, um processo vivo de desenvolvimento humano baseado na troca de experiências, em uma cinética que faz desta entrega um palco onde todos atuam.    



Si Fu caminha com Si Taai Gung. Vida Kung Fu personificando a tradição.







terça-feira, 9 de março de 2021

Juntos: um dos frutos do trabalho de Jo Lei Ou.


Manhãs de sábado: Daai Si Hing Leonardo Reis (ao centro) orienta as práticas de Cláudio Teixeira (à esquerda) e Roberto Viana (à direita).




"Separados uns dos outros seremos pontos de vista. 

Juntos, alcançaremos a realização 

e nossos propósitos".  

(Bezerra de Menezes).


A diferença entre uma Família consanguínea para uma Família Kung Fu, é que esta nos escolhemos. E esta escolha carrega consigo as responsabilidades voluntariamente aceitas, como diria Camões é um "estar-se preso por vontade". E esta vontade tem um objetivo específico: desenvolver o próprio Kung Fu.

E não se desenvolve o próprio Kung Fu sem que se divida com outras pessoas suas próprias experiências, potenciais e limites. É uma verdadeira opção de vida, um desejo de se desenvolver como ser humano, tendo como cenário o combate simbólico.

O desenvolvimento de um praticante de Ving Tsun que é To Dai (aluno) de meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, acontece dentro daquilo que Patriarca Moy Yat chamava de Vida Kung Fu. Como o próprio nome sugere, é uma forma de viver, que incorpora a experiência promovida por nosso Si Fu, um trabalho de aperfeiçoamento humano, onde desenvolvemos nossos potenciais e manifestamos o nosso melhor por meio desta convivência. 



Si Fu entre mim e meu irmão Kung Fu, Marcos Leiras. Em minhas mãos, assinado por Si Fu os princípios: Aderir, Aproveitar e Aprimorar.
  


E para que esta experiência seja aproveitada da melhor forma, dividimos nossas experiências com nossos irmãos Kung Fu, compartilhando aquilo que aprendemos com Si Fu, comprometidos com o desenvolvimento de todos, para que retiremos cada vez mais proveito por meio destas relações.

Natural que com o tempo, nos conhecendo melhor, tenhamos que aprender com as diferenças, refrear nossos limites e compreender os limites dos nossos iguais, To Dai de nosso Si Fu, assim como nós. O Mo Gun é uma Casa de Guerra, e a crise é parte necessária deste ensinamento, as dores do crescimento virão, tropeçar, errar e até ser injusto, muitas vezes fazem parte deste difícil processo, porém o próprio Sistema Ving Tsun consegue nos ajudar nisso. Assim como Chi Sau que termina a cada rolada, dentro da Família Kung Fu, sempre podemos zerar e começar de novo. 

O principal aí não é se fez certo ou errado, mas sim o que se conseguiu aprender com isso. É um microcosmo bem diferente daqueles que percebemos fora dele, seja no trabalho, entre amigos, até mesmo dentro da Família de sangue. É um mundo imaterial que carregamos conosco e nos permite viver melhor em todos os outros ambientes que frequentamos. 

Este Blog mesmo é fruto deste desenvolvimento. Jamais imaginei escrever postagens e disponibilizar aquilo que penso sobre qualquer assunto. Foi graças ao incentivo de meu Si Fu para mim e para meus outros irmãos Kung Fu, que agora consigo dividir o que penso e expressar através de palavras aquilo que com ele aprendi. 

E tudo isso porque juntos vamos nos tornando, com a Vida Kung Fu, os frutos do trabalho do meu Si Fu.



Eu com meus irmãos Kung Fu, Thiago Pereira (ao centro) e Vladmir Anchieta (à direita) no almoço de Celebração dos 51 anos de nosso Si Fu.




Mulheres que cantam a Primavera.

 

Yim Ving Tsun e Si Sok Úrsula Lima: passado e presente unidas através do legado de um Sistema de Kung Fu.


"Nas duas faces de Eva

A Bela e a Fera

Um certo sorriso de quem nada quer

Sexo frágil não foge à luta."

(Rita Lee - Cor de Rosa choque).


Nas mais diversas áreas do saber humano, mulheres notáveis deram a sua contribuição para o progresso da Humanidade. Emprestaram sua sensibilidade e conhecimento, contribuindo com seu talento para a evolução das mais diversas Sociedades. 

Trago nesta postagem um pouco da História de duas grandes mulheres que marcaram para sempre seu nome no Sistema de Kung Fu que eu, e milhares de pessoas ao redor do mundo se dedicam à prática. A primeira delas inclusive, empresta o próprio nome ao Sistema: Ving Tsun.

O nome Yim Ving Tsun pode ser traduzido como: "cantar eternamente a primavera". É como se chamava a fundadora do Sistema, uma jovem que em determinado momento de sua vida estava sendo forçada a casar-se um com vilão que aterrorizava o lugarejo onde morava. Parecia que o destino desta jovem seria cruelmente traçado, vitimando-a a um casamento infeliz, imposto por uma usurpação forçada pelo machismo. 

Acontece que a jovem conheceu Ng Mui, uma Monja que havia escapado do incêndio do Monastério que habitava. Dela recebeu o conhecimento, que mais tarde, veio a organizar em um Sistema. De posse deste conhecimento, desafiou o vilão para uma luta, e se ele vencesse, ela se casaria com ele. 

Yim Ving Tsun de fato venceu porque não se casou com ele, e quanto à luta, ela pode nem ter acontecido, afinal desafiar publicamente o vilão para uma luta com aquele objetivo aponta para pelo menos dois cenários: o primeiro é que ele foi envergonhado publicamente, afinal, só conseguiria casar-se com ela se lutasse. O segundo é que se perdesse, seria derrotado por uma mulher, vergonhoso para uma sociedade machista como a chinesa por volta de 1700. 

Depois destes episódios, Yim Ving Tsun se casaria com Leung Bok To, transmitindo a ele seu conhecimento. Em sua homenagem batizou o Sistema de Kung Fu transmitido a ele por sua mulher, de Ving Tusn. 



Ving Tsun gravado em madeira: Presente que recebi de minha Si Sok, Mestre Senior Úrsula Lima no ano de 2003.



Mestre Úrsula Lima é irmã Kung Fu de meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, o que faz dela minha Si Sok (tia Kung Fu). Ela tem uma longa história de colaboração com a Família Kung Fu de meu Mestre, tendo sido Coordenadora Geral do Núcleo Barra da Tijuca por mais de 10 anos.

Em julho de 2010, foi reconhecida Mestre Qualificado pela Moy Yat Ving Tsun Martial Inteligence, com os auspícios da International MYVT Federation, sendo a primeira mulher do Clã Moy Yat Sang a receber tal honraria.

A minha Si Sok é uma referência dentro do Sistema Ving Tsun, por sua alta qualificação técnica, sua liderança e determinação. Comemorou em julho do ano passado 10 Anos de Inauguração de sua Família Kung Fu, desenvolvendo seu trabalho no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, bem como iniciou uma carreira internacional tendo transmitido também em Portugal. 

Alguns séculos separam as histórias de Yim Ving Tsun e Mestre Senior Úrsula Lima, porém através do legado de uma tradição de Mestres, com a transmissão pura e legítima do Sistema, elas se encontram em essência, e por ter bebido da mesma fonte de conhecimento, hoje é possível que se possa receber a transmissão diretamente através de uma mulher, Mestre da mesma arte, e pertencente à linhagem direta da fundadora. 

 


Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho e Si Sok, Mestre Senior Úrsula Lima. Primos de sangue, e décadas como irmãos Kung Fu.


O Ving Tsun é um Sistema de Kung Fu essencialmente feminino, negando a usurpação através da força, apoiando-se no que é oferecido pelo oponente para alcançar a vitória. É antes de tudo uma atitude inteligente que observa o cenário e se apoia nele.

 E através de grandes mestres, de todas as épocas, de Yim Ving Tsun à Úrsula Lima, é que se confirma por séculos, ser a personificação da essência feminina, o que move esta bela arte.  



Mestre Senior Úrsula Lima: Família Moy Lin Mah e convidados, com a presença do Mestre Senior Ricardo Queiroz.









 

   

quinta-feira, 4 de março de 2021

Contar a própria História.

Prática do Baat Jaam Do com meu irmão Kung Fu, Rodrigo Moreira.



"Cada um de nós compõe a sua história,

Cada ser em si

Carrega o dom de ser capaz

E ser feliz".

(Tocando em frente: Almir Sater e Renato Teixeira).




Uma das maiores belezas que existem no Kung Fu na minha opinião, reside no fato de que algo é entregue à você, que foi desenvolvido por pessoas de outra época, de outra Cultura,  um saber Ancestral, de várias gerações de Mestres e este saber não lhe é entregue pronto. E nem deve ser assim.
A experiência que meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho nos proporciona, mobilizando minha busca por uma leitura  pessoal para a sequência do Baat Jaam Do, levando a debruçar-me sobre o estudo de cada movimento, me faz lembrar  de um belo diálogo entre um lendário professor de Matemática brasileiro, Augusto Cesar Morgado e um ex-aluno seu, do Curso de Engenharia da UFRJ. 
Conta o ex-aluno que quando já fazia seu Mestrado na UFRJ, no Curso de Análise Real foi adotado o livro do Rudin. Como era muito aplicado, tinha o hábito de resolver todos os exercícios, mas no capítulo 3, havia um que não conseguia fazer. O que ele fez? Perguntou ao Morgado. Após ler o enunciado por cerca de 30 segundos, deu-se o diálogo:
Morgado: Você conhece o teorema de Pringsheim?
Aluno: Nunca ouvi falar.
Morgado: Então vá estudar o teorema de Pringsheim. 
Assim também é no estudo do Kung Fu. Cada um de nós, Discípulos de meu Si Fu precisamos encontrar nossas respostas, ele aponta o caminho, e cada um buscará desenvolver seu Kung Fu e deixá-lo do tamanho que esta busca proporcionará.





Si Fu orienta seus Discípulos Leonardo Reis e Pedro Corrêa (ao fundo na foto).




Quando pratico a Sequência do Nível Superior Final, tenho um roteiro a seguir, mas forma de contar a História, o colorido que darei ao roteiro que recebi, é responsabilidade minha. E esta forma de transmissão é uma grande demonstração de respeito e confiança que meu Mestre deposita na relação que desenvolve comigo, seu Discípulo.
Chegará o momento em que meu Si Fu apresentará para mim, a sua expressão pessoal, de como ele mesmo realiza a sequência, resultado de sua busca, de seu estudo. Mas até lá a mim cabe continuar procurando respostas às minhas perguntas, personalizar a minha forma de executar através da minha compreensão sobre a sequência. Este é um caminho de muito trabalho, afinal é um caminho de Mestria. 
Meu Si Fu disse que a transmissão tradicional é assim realizada por que, do contrário, é como se meu jovem Kung Fu fosse esmagado pelo conhecimento de uma tradição de várias gerações de Mestres, afinal, se eu assistisse a sequência de meu Si Fu antes de ter a minha própria amadurecida, não teria como defender minha própria história, por sua jovial fragilidade, ao ver o tamanho do conhecimento que se colocaria diante dos meus olhos.  
Como na História que contei sobre o Professor Morgado que indicou ao seu ex-aluno qual teorema apontaria para a resposta de sua questão, meu Si Fu me aponta os caminhos para que eu construa a minha História e seja capaz de defendê-la como o resultado do desenvolvimento do meu próprio Kung Fu. 
E assim, aquilo que digo através de uma Sequência com duas facas nas mãos, será a síntese daquilo que sou como praticante de Kung Fu.  Meu Si Fu aponta o caminho, mas a estrada é caminhada por mim.
Serei eu a contar a minha História.  





Si Fu orienta sobre a anatomia do Ving Tsun Do.




domingo, 28 de fevereiro de 2021

Aproximar e afastar.

Si Fu fala aos presentes durante Colóquio.


 Na noite de quinta feira passada, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho coordenou mais um Encontro on-line com a Família Moy Jo Lei Ou. Desta vez foi realizado um Colóquio, e seguindo o formato, a liberdade dos temas propostos gerou perguntas sobre diversos temas, os quais Si Fu comentou um a um.

Esta postagem se refere a um deles: sobre um dos aprendizados que retiramos da prática com o boneco de madeira, o Muk Yan Jong (樁)sobre aproximar e afastar. 

O boneco de madeira não se desloca,  e embora exista um certo "jogo" que auxilie o aprendizado, ele não anda, e por não sair do lugar, obriga ao praticante executar certos movimentos em função do boneco, ou seja, só é executado por causa dele.

Trazendo essa necessidade também para as relações humanas, podemos pensar o quanto muitas vezes precisamos compensar com a nossa ação, por causa da incapacidade do outro. A prática com o boneco de madeira, quando nos aproximamos, afastamos, angulamos, nos mostra o quanto a excelência é alcançada nos mais diversos cenários, exatamente quando consideramos o outro, em seus limites e potenciais.

É uma experiência reveladora, mostra muito sobre o quanto se aprende ao se respeitar e dividir uma experiência com quem "sabe menos". O praticante que não respeita o boneco, um ser inanimado, um tronco de madeira suspenso, se torna o "bobo da história" não conseguindo extrair proveito do grande potencial deste estudo. 

A relação com o boneco é um bom laboratório para refinarmos as nossas relações por toda a vida. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Um Golpe, uma Morte.




Sessão de terça à noite. Si Fu orienta seus Discípulos do Nível Superior Final.





Quantas oportunidades são perdidas na vida, pela falta de compromisso com a excelência na execução daquilo que fazemos? Quantas vezes precisamos repetir movimentos por falta de monitoramento, de uma atenção cuidadosa? 
Eu resolvi fazer um teste comigo, para conseguir ser capaz de responder a estas perguntas. Passei a guardar meus objetos sempre em um mesmo lugar: a chave do carro, um livro, etc. Embora seja uma atitude extremamente simples, notei a diferença que dá para quando eu não fazia isso, e como esta era uma entre as várias formas de externar a minha falta de compromisso com a qualidade e precisão nas minhas ações.




Eu portando o Ving Tsun Do. Foto: Núcleo Ipanema.  


O sucesso ou o fracasso são gerados por nossas atitudes diante de tudo, e se não sou preciso nos gestos mais simples, sofrerei consequências maiores sem dúvida, quando o meu posicionamento for testado em circunstâncias mais complexas. 
Não é necessário ser mais inteligente ou mais habilidoso do que a maioria dos seres humanos para ser alguém bem sucedido na vida, mas existe um ponto que é essencial: o de como eu me posiciono diante daquilo que preciso executar. 
O Kung Fu fala de dedicação em busca da excelência, afinal ser um homem de Kung Fu não é ser um homem comum. E quando digo não ser comum, não me refiro aqui a alguém que seja superior a quem quer que seja, mas sobre alguém que através de seu posicionamento diante da vida, consegue dar uma diferença, um ponto positivo capaz de ser notado por todos à sua volta.
Mas onde encontramos esta precisão a ponto de que este diferencial seja uma expressão pura, uma síntese de nós mesmos?




Si Fu em uma transmissão do Nível Superior Final com seu Discípulo Rodrigo Moreira, observado por seus Discípulos, André Almeida, Roberto Viana e Leonardo Reis (da esquerda para a direita). 


O Nível Baat Jaam Do, deixa claro ao praticante qual a consequência de se ter falta de precisão na execução de seus movimentos. O cenário, é você apontando duas facas para alguém que aponta uma outra arma (pode ser igualmente duas facas) na sua direção. Neste cenário de Combate simbólico, fica evidente a alusão de que você só precisa de um golpe, para matar ou morrer. 
Ao posicionar-se diante da vida tendo como referência um cenário assim, eleva-se o grau de atenção e compromisso com a execução daquilo que se faz, percebe-se com mais clareza as circunstâncias que se apresentam, sem julgá-las como positivas ou negativas, são apenas oportunidades de aprendizado.
Não há tempo para reclamar ou "culpar a vida", o tempo vai passando, tudo vai acontecendo e você deve ser ativo no processo se aproveitando dele, e não reativo por conta daquilo que acontece, como se fosse uma vítima daquilo que o circunda.
Percebe-se melhor a morte como a sequência de algo que tem início meio e fim, e não apenas um processo biológico onde as funções vitais falecem. Porém é exatamente quando esta finitude que a vida tem, é apresentada através de uma prática como esta do Nível Superior Final do Sistema Ving Tsun, se mostrando tão perceptível, aflora-se a importância que há na execução precisa daquilo que se faz na vida. Apresenta ao praticante tudo aquilo que morre por sua falta de compromisso e precisão, seja na defesa de seus valores, seja na defesa de seus sonhos. 
Um único golpe preciso pode fechar um processo e matar algo que nos incomoda, assim como a falta dele pode nos perpetuar acorrentados naquilo que nos faz mal, por não termos a coragem de matar isso em nós. 
Um golpe mal executado pode ser um aprendizado para refinarmos nossa precisão para a próxima, como também pode gerar uma perda de oportunidade que jamais se repita. São cenários extremos que exigem atenção e objetividade.
Meu Si Fu nos transmite tudo isso. Com duas facas nas mãos.  



    
Si Fu transmite sessão do Nível Superior Final, com seu Discípulo Guilherme de Farias, observado pelos Discípulos, Leonardo Reis, Pedro Corrêa e Cláudio Teixeira (ao fundo, da esquerda para a direita). 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Irmãos Kung Fu.

 Meu Si Fu e Si Sok Úrsula Lima: Primos na Família de sangue, irmãos na Família Kung Fu.




A História da Família Kung Fu de meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, tem com certeza muitos capítulos escritos com a participação especial de sua irmã Kung Fu mais nova, a Si Sok Úrsula Lima. 
O pioneirismo de meu Si Fu desenvolvendo o trabalho da Moy Yat Ving Tsun Marcial Inteligence no Rio de Janeiro, representando seu Si Fu, Grão Mestre Leo Imamura, teve como personagem de grande relevância em apoio ao seu trabalho, a minha Si Sok. 
Eu e muitos de meus irmãos Kung Fu tivemos o privilégio de tê-la bem próxima à nós, tutorando nossas sessões personalizadas, orientando questões administrativas, competências que ela desenvolveu e que certamente lhe foram muito úteis quando da Formação da sua própria Família Kung Fu.




Si Sok Úrsula Lima recebe de Grão Mestre Leo Imamura seu Jiu Paai.




Ao se tornar a primeira mulher Mestre titulada pela Moy Yat Ving Tsun Martial Inteligence, Si Sok Úrsula Lima escreveu definitivamente o seu nome com destaque na galeria de Mestres formados por Grão Mestre Leo Imamura. A sua ligação à Família Kung Fu de meu Si Fu, faz dela também uma figura de importância destacada na história do Clã Moy Jo Lei Ou.
 




Si Sok Úrsula e eu durante sua visita ao Núcleo Barra da Tijuca do Clã Moy Jo Lei Ou.