quinta-feira, 4 de março de 2021

Contar a própria História.

Prática do Baat Jaam Do com meu irmão Kung Fu, Rodrigo Moreira.



"Cada um de nós compõe a sua história,

Cada ser em si

Carrega o dom de ser capaz

E ser feliz".

(Tocando em frente: Almir Sater e Renato Teixeira).




Uma das maiores belezas que existem no Kung Fu na minha opinião, reside no fato de que algo é entregue à você, que foi desenvolvido por pessoas de outra época, de outra Cultura,  um saber Ancestral, de várias gerações de Mestres e este saber não lhe é entregue pronto. E nem deve ser assim.
A experiência que meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho nos proporciona, mobilizando minha busca por uma leitura  pessoal para a sequência do Baat Jaam Do, levando a debruçar-me sobre o estudo de cada movimento, me faz lembrar  de um belo diálogo entre um lendário professor de Matemática brasileiro, Augusto Cesar Morgado e um ex-aluno seu, do Curso de Engenharia da UFRJ. 
Conta o ex-aluno que quando já fazia seu Mestrado na UFRJ, no Curso de Análise Real foi adotado o livro do Rudin. Como era muito aplicado, tinha o hábito de resolver todos os exercícios, mas no capítulo 3, havia um que não conseguia fazer. O que ele fez? Perguntou ao Morgado. Após ler o enunciado por cerca de 30 segundos, deu-se o diálogo:
Morgado: Você conhece o teorema de Pringsheim?
Aluno: Nunca ouvi falar.
Morgado: Então vá estudar o teorema de Pringsheim. 
Assim também é no estudo do Kung Fu. Cada um de nós, Discípulos de meu Si Fu precisamos encontrar nossas respostas, ele aponta o caminho, e cada um buscará desenvolver seu Kung Fu e deixá-lo do tamanho que esta busca proporcionará.





Si Fu orienta seus Discípulos Leonardo Reis e Pedro Corrêa (ao fundo na foto).




Quando pratico a Sequência do Nível Superior Final, tenho um roteiro a seguir, mas forma de contar a História, o colorido que darei ao roteiro que recebi, é responsabilidade minha. E esta forma de transmissão é uma grande demonstração de respeito e confiança que meu Mestre deposita na relação que desenvolve comigo, seu Discípulo.
Chegará o momento em que meu Si Fu apresentará para mim, a sua expressão pessoal, de como ele mesmo realiza a sequência, resultado de sua busca, de seu estudo. Mas até lá a mim cabe continuar procurando respostas às minhas perguntas, personalizar a minha forma de executar através da minha compreensão sobre a sequência. Este é um caminho de muito trabalho, afinal é um caminho de Mestria. 
Meu Si Fu disse que a transmissão tradicional é assim realizada por que, do contrário, é como se meu jovem Kung Fu fosse esmagado pelo conhecimento de uma tradição de várias gerações de Mestres, afinal, se eu assistisse a sequência de meu Si Fu antes de ter a minha própria amadurecida, não teria como defender minha própria história, por sua jovial fragilidade, ao ver o tamanho do conhecimento que se colocaria diante dos meus olhos.  
Como na História que contei sobre o Professor Morgado que indicou ao seu ex-aluno qual teorema apontaria para a resposta de sua questão, meu Si Fu me aponta os caminhos para que eu construa a minha História e seja capaz de defendê-la como o resultado do desenvolvimento do meu próprio Kung Fu. 
E assim, aquilo que digo através de uma Sequência com duas facas nas mãos, será a síntese daquilo que sou como praticante de Kung Fu.  Meu Si Fu aponta o caminho, mas a estrada é caminhada por mim.
Serei eu a contar a minha História.  





Si Fu orienta sobre a anatomia do Ving Tsun Do.




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