segunda-feira, 18 de maio de 2020

O encontro com o vazio.



Sheung Mo: Promover o Espírito Marcial.




A cultura ocidental é baseada em respostas. Precisamos delas para compreendermos como nos desenvolveremos em todas as áreas de nossas vidas: na família, no trabalho, enfim em toda a sociedade. São modelos prontos que nos permitem trazer respostas que nos permitirão "vivermos bem", fazendo aquilo que esperam de nós.
Muitas vezes vivemos como se estivéssemos em uma entrevista de emprego, onde as perguntas padronizadas conduzem à respostas igualmente padronizadas e na maioria das vezes, nada honestas, formuladas apenas para impressionar bem ao entrevistador, porque na verdade, o que menos importa ali para o entrevistado é a pergunta, ou pensar sobre o motivo pelo qual ela foi feita. O que se quer é só o emprego, ou seja, o foco está apenas no final, e a maior prova de que há desprezo pelo processo é a não rara desonestidade da resposta, o que não tem haver com dizer verdade ou mentira, tem haver com a desconexão, com o descompromisso real com a pergunta.
O pensamento clássico chinês observa tudo como oportunidade, e como se aproveitar dela de uma forma honesta. Assume-se uma postura de adesão, não há resistência como forma de negação do processo e sim um olhar atento que busca a todo momento, lançar uma lente a mais potente possível, e enxergar o sentido escondido das coisas, que moram, não raras vezes, na simplicidade.
Parece estranho, mas o simples, muitas é o mais difícil de perceber. Eu me escondo muito melhor no meio da multidão da cidade, do que em um local ermo, que já tem "cara de esconderijo". Elaboramos tantas coisas, procuramos técnicas e análises aprofundadas, mergulhamos tanto, enquanto a resposta, não raro, boia na superfície, e muito deste imbróglio se deve ao fato de confundirmos resposta simples com resposta pobre, quando na realidade há muita riqueza em saber responder com simplicidade.
 Quando alcançamos esta capacidade de formulação de resposta, trilhamos uma estrada para a sabedoria.





Si Fu ministra sessão do Baat Jaam Do aos Discípulos: Roberto Viana, Rodrigo Moreira e Guilherme de Farias.





O praticante de Kung Fu caminha em direção ao vazio. Se em um primeiro momento existem técnicas que o conduzirão de uma forma mais clara ao aprendizado, como se fosse uma estrada iluminada e com boa sinalização de placas, para um Kung Fu se tornar maduro, será preciso que esta mesma estrada vá se tornando cada vez menos iluminada, e com sinalizações precárias.
As respostas deverão ser a cada dia mais pessoais, a leitura corporal espelhar a essência de quem executa, transparecer menos a sequência de movimentos e mais a expressão pessoal.
É uma jornada necessariamente solitária, um encontro consigo mesmo para que no seu íntimo se formulem perguntas, e sejam elas trazidas à tona através do prazer ou sofrimento, certezas ou dúvidas, coragem ou medo, força ou fraqueza, não importa.
A sensação de vazio externo é o convite para um salto, um mergulho em nós mesmos, sobre o que sentimos e o que somos. Assim, será com tudo aquilo que temos dentro de nós, que geraremos um Kung Fu maduro e preencheremos de forma honesta,  as respostas para os estímulos que o vazio externo apresenta.





Vida Kung Fu: Si Fu orienta sobre relação familiar.



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