quarta-feira, 8 de julho de 2020

A Flor e o Cavalo.



Foto Oficial da Mestre Senior Úrsula Lima na página da Moy Yat Ving Tsun Martial Intelligence.




Quando iniciei a prática do Ving Tsun, entre os planos das sessões personalizadas, dois apareciam com destaque: o primeiro com o nome de meu Si Fu, à época Mestre Qualificado (atualmente Senior) Julio Camacho e da Tutora Úrsula Lima.
Pelo meu histórico dentro das artes marciais, tinha a crença de que aquela tutora deveria ser uma senhora de seus 40 anos, dada à elevada qualificação que à ela era atribuída.
A Moy Yat Ving Tsun apresentava seu trabalho, o ano era de 2003, com um Curso chamado Introdutório, no qual depois de 4 sessões, o praticante decidiria se deveria ou não seguir com a prática. Eu já estava decidido na minha terceira sessão: tive um tutor de uma qualidade técnica e uma capacidade de transmissão que até então nunca havia visto em artes marciais: o nome dele é Diego Guadelupe, hoje Mestre de Ving Tsun e meu Si Sok. Mas e a sessão de número 4?
Qual não foi minha surpresa ao subir as escadas do antigo Núcleo Jacarepaguá e me deparar com uma bela jovem de seus 20 anos para ser minha tutora naquele dia. Seu nome? Úrsula Lima.
Aquela pessoa que havia virado lenda na minha imaginação como uma grande tutora de seus 40 anos era na realidade, muito mais jovem e muito mais qualificada em transmissão do que minha fantasia marcial imaginava, e realmente não passava pela minha cabeça, que alguém tão jovem, tivesse tanto Kung Fu.





Si Sok Úrsula e eu durante sua visita ao Núcleo Barra da Tijuca. Foto 2019.




Hoje passados 17 anos deste evento, a Mestre Senior Úrsula Lima tem no meu conceito um lugar de destaque na Galeria dos Grandes Nomes do Ving Tsun. Recebeu seu nome Kung Fu de meu Si Taai Gung  (Patriarca Moy Yat) e seu sobrenome Lima foi a base para a manifestação de suas características dentro da construção de sua personalidade Kung Fu. Si Sok Úrsula Lima, com a beleza da flor de lótus e a força do cavalo era agora, Moy Lin Mah.
Certa vez ela relatou um dos acontecimentos que considero um dos mais bonitos dentro do nosso Grande Clã. Patriarca Moy Yat estava em visita ao Brasil e existia um protocolo para que ninguém o tocasse. Após fazer sua reverência, e respeitando a regra estabelecia, Si Sok Úrsula Lima vê o Líder do Grande Clã Moy Yat apontando o dedo indicador para uma de suas próprias bochechas, em um sinal que indicava o pedido de um beijo.





Si Sok Úrsula Lima entre os Líderes do Grande Clã: Patriarca Moy Yat e Madame Helen Moy. 





A Mestre Senior Úrsula Lima tem uma História muito importante, de grandes contribuições dentro da Família Kung Fu de meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho. Eles são inclusive "duas vezes da mesma família" uma vez que são primos de sangue e irmãos Kung Fu.
Durante muito tempo e por mais de 10 anos, ela foi Coordenadora Geral do Núcleo Barra da Tijuca, contribuindo de forma importante e definitiva para a consolidação da Família Moy Jo Lei Ou. O que só confirma à ela, minha gratidão.



Duas vezes Família: Meu Si Fu e Si Sok Úrsula: primos sanguíneos e irmãos Kung Fu.


Em julho de 2010, foi reconhecida Mestre Qualificado pela Moy Yat Ving Tsun Martial Inteligence, com os auspícios da International MYVT Federation, sendo a primeira mulher do Clã Moy Yat Sang a receber tal honraria.
O Sistema Ving Tsun foi fundado por uma mulher, Yim Ving Tsun, que teve como Mestre uma outra mulher, a monja Ng Mui. Pelo menos três séculos separam as histórias de Si Sok Úrsula  das lendárias responsáveis por esta que é a única Arte Marcial que tem sua fundação atribuída a uma mulher.
Em 2020 celebramos a coroação dos 10 Anos da Fundação da Família Moy Lin Mah que assim como todas as Famílias do Grande Clã Moy Yat Sang, é descendente da mesma árvore genealógica, com raízes fundadas no trabalho e dedicação do introdutor da Moy Yat Ving Tsun Martial Inteligence no Brasil, Grão Mestre Leo Imamura. E ele, assim como no exemplo histórico da Fundação deste sistema de Kung Fu, preparou uma mulher para se tornar Mestre de Ving Tsun.




Mestre Úrsula Lima recebe seu Jiu Paai das mãos dos Líderes do Clã Moy Yat Sang: Grão Mestre Leo Imamura e Senhora Vanise Imamura.





Esposa de Ricardo e mãe de Rebeca, representa muito bem o empoderamento feminino e sem precisar levantar qualquer tipo bandeira, atuando em todos os seus papéis e atendendo todas as demandas que as mulheres modernas são cobradas com todos os seus papéis bem definidos e resolvidos, dedicada à família e sendo uma Profissional de Kung Fu de grande sucesso, com carreira internacional, tendo seu trabalho sido apresentado também em Portugal.




Foto Família: O marido Ricardo e sua filha Rebeca.





É uma História muito rica e muito longa para que um Blog tenha a pretensão de tentar chegar perto de relatar o tamanho do brilho que ela tem. Mas a minha gratidão por Mestre Úrsula Lima, por tudo que ela representa e por tudo que ela fez, faz e fará por esta Arte que nos uniu como Família, me autorizam a registrar nesta postagem, que dedico à ela algo muito maior que uma homenagem.
DEDICO MEU APLAUSO!




Cerimônia da Família Moy Lin Mah.


segunda-feira, 6 de julho de 2020

Sintonia.



Si Fu orienta a Equipe responsável pela Unidade Tijuca.






A foto acima retrata um almoço em que, entre outros irmãos Kung Fu, estávamos eu, Rodrigo Moreira e Marcos Leiras sentados próximos ao nosso Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho. Nossa posição à mesa tinha uma razão muito especial: recebíamos ali de nosso Si Fu, orientações para o desenvolvimento das atividades da Unidade Tijuca.
Quando um grupo representa o trabalho de seu Mestre em um determinado local, é de fundamental importância que aquele grupo esteja sintonizado com aquilo que seu Si Fu pensa  sobre como o trabalho deve ser desenvolvido. 
Particularmente, enxergo como uma aposta que meu Si Fu fez confiando em mim e meus irmãos Kung Fu, e como Discípulo, a mim cabe dar o meu melhor. Por se tratar de uma relação de Vida Kung Fu, a orientação para o desenvolvimento das atividades tem origem na mesma nascente que banha o enriquecimento do meu Kung Fu, representando uma oportunidade de desenvolvimento cada vez maior. 







Si Fu concedendo a mim seu autógrafo em seu livro: "O Tao do Surf".





Eu vejo este momento da relação como meu Si Fu como  uma oportunidade de fortalecer e estreitar ainda mais os laços com ele, afinal ao procurá-lo mais vezes para ser orientado sobre os rumos a serem tomados, tenho a oportunidade de ouvir mais e aprender mais. 
Estou certo de que eu e meus irmãos Kung Fu, responsáveis pela Unidade Tijuca vamos errar muito e acertar muito também, mas será o aprendizado adquirido em cada situação que fará a diferença em nosso Kung Fu. Como diz nosso Si Fu: "se você acertou e não aprendeu nada e quando errou aprendeu, valeu mais para você ter errado, porque no final o que importa é aquilo que você aprendeu". 
Representar o trabalho do nosso Si Fu além de uma grande honra, é também uma oportunidade para através desta experiência, termos juntos a ele, nosso desenvolvimento através da Vida Kung Fu.








Prática ao ar livre dos Membros da Unidade Tijuca.









segunda-feira, 29 de junho de 2020

Kung Fu e o tempo.




Si Fu caminhando ao lado de Si Taai Gung Moy Yat.






"E como o tempo não tem, nem pode ter consistência alguma, e todas as coisas desde o seu princípio nasceram juntas com o tempo, por isso nem ele, nem elas podem parar um momento, mas com perpétuo moto, e resolução insuperável passar, e ir passando sempre".


Pe. Antônio Vieira.



                                                                                                         
 Em seu livro intitulado "Sobre o tempo", o Sociólogo judeu-alemão Norbert Elias, introduz o assunto falando sobre um ancião que respondia saber o que era o tempo quando não perguntavam o que ele era, e quando perguntavam, ele não sabia.
Os relógios são apenas recursos mecânicos capazes de mensurar divisões que nomeamos de segundos, minutos e horas, um procedimento artificial para tentar dar uma padronização a algo que não tem cheiro, não tem gosto, não se toca, nem se vê através de cores. Algo que apenas acontece. Assim como o vento toca nosso rosto mas não podemos segurá-lo, assim é o tempo, se manifestando em nós, deixando em cada um a sua marca.
O que o meu Kung Fu me diz sobre o tempo? Qual a relação que estabeleço entre ele e o meu desenvolvimento?
Em um dos Eventos de nossa Família Kung Fu, meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, foi questionado com a seguinte pergunta: "Mas o que a gente faz em momentos tão ruins como este?" Ele respondeu: "Nunca está ruim. Quando não está bom, é porque, de alguma forma, seu Kung Fu está falhando."
A resposta de meu Mestre é uma chave de leitura para percebermos a medida do quanto estamos comprometidos com nossa própria vida, em todos os momentos. Qual a nossa capacidade de percepção dos fatos, o movimento responsável que fazemos, a leitura sobre a dinâmica dos acontecimentos, de que a todo momento o cenário muda, as coisas surgem com suas velocidades próprias, e o quanto estamos atentos para tirarmos proveito dos fatos, estabelecendo ações de qualidade, e não sermos vítimas deles.
Um Kung Fu maduro não culpa o que acontece, não se assusta com bater forte da onda, pelo contrário, pega sua prancha e vai surfá-la. É sensível aos acontecimentos, não entra em conflito com  eles, e como um navegador experiente, não enfrenta os ventos, apenas ajusta as velas.





Si Fu e Si Gung Leo Imamura durante Seminário no núcleo Barra da Tijuca.




O tempo no Kung Fu, não é o tempo do relógio, e embora seja fato que se demandem anos para alcançar um desenvolvimento elevado, mais importante que o tempo que se passa praticando é a qualidade do esforço empregado neste mesmo tempo, que fará a diferença.
Aqui faço questão de repetir: "qualidade do esforço", porque será essa qualidade, essa busca da excelência, que fará toda a diferença no tempo empregado, e porque acima de tudo, um bom praticante de Kung Fu se esforça para não fazer força, ele atua com um esforço inteligente.
 Não se trata de ser melhor ou pior do que alguém, ou de se conseguir um resultado mais rápido ou mais lento, o diferencial aqui está no compromisso de se empregar o tempo da melhor forma possível, dentro daquilo que cada um é capaz, afinal, o Kung Fu não é objeto de comparação, é uma construção individual.
Assim como no livro que citei no início da postagem, não tenho a resposta e nem sequer a ambição de um dia conseguir responder sobre o que é o tempo, porque na realidade o que tenho recebido do meu Kung Fu, é apenas uma lente que vai ficando dia a dia mais potente para que eu possa enxergar, cada vez melhor, não o que é o tempo, mas aquilo que devo fazer com ele.





Si Fu e eu, durante a Celebração de seus 50 anos.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Cui bono?


Si Fu desenvolvendo projeto. Foto 2019.




Meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, durante a prática de hoje nos trouxe a reflexão sobre um brocado latino, "cui bono?" que significa "a quem beneficia?"
A partir deste seu ensinamento, ele dividiu conosco que a nossa Arte, o Ving Tsun, não é uma estrada na busca de um proveito efêmero das coisas. É um caminho construído com o compromisso para a realização de um benefício que seja duradouro, e por esta razão, é importante saber esperar o momento adequado para agir.
A atitude responsável, que inclui o zelo pelo outro, é fundamental para que alcancemos uma compreensão apurada de nossa arte. Não raro, é necessário abdicarmos de nossos desejos imediatos, ainda que legítimos e totalmente lícitos, em nome de um bem maior, que alcance à todos. E é aí que a figura do líder se mostra fundamental para a correção de rumo.
Um dos maiores ganhos que o Kung Fu oferece, é a arte de escutar. Ela não se resume apenas em uma capacidade auditiva, o quanto de decibéis você alcança. Não é isso. A escuta no Kung Fu vem através da abertura para aceitar novas propostas, sem resistir, apenas escutando e aproveitando o que é oferecido. Assim você absorve e não raro aperfeiçoa a ideia com base naquilo ouviu.
Quando você desenvolve esta competência, adquire a sensibilidade para perceber de que forma suas ações podem gerar maior benefício.




Si Fu fazendo uma demonstração com o Tutor Guilherme de Farias, observado pelo Tutor André Guerra.





Em um cenário de luta corporal por exemplo, é fundamental perceber o outro e agir em função daquilo que ele te oferece, sem desejos anteriores, sem "plano de voo". Apenas observe, aceite o que vem, o que o cenário apresenta, perceba-se como elemento do todo, assim você terá muito mais material avaliativo para dar uma resposta adequada.
Quando meu Si Fu falou hoje para nós sobre o brocado latino, título desta postagem, lançando luz sobre  nossas ações, para que elas sejam sempre alicerçadas em um pensamento projetado com propostas cirurgicamente analisadas, capazes de avaliar possíveis cenários e aquilo que se pode retirar de cada um deles, além de reafirmar sua responsabilidade como nosso líder, ele mais uma vez educou o nosso Kung Fu, para que um dia possamos exercer futuras lideranças.






Si Fu e Si Mo em visita ao Núcleo Ipanema.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

O Caminho do meu Kung Fu.



Foto presenteada por Si Fu: Sessão de hoje do Nível Superior Final.




Quando meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, me admitiu no Nível Superior Final, suas palavras me tocaram o coração de uma forma muito especial.
Disse meu Si Fu: "Roberto estou fazendo junto com você uma aposta. Estou apostando em nós. Se os dois quisermos, não podemos perder."
Os níveis de um sistema de Kung Fu são como os cômodos de uma casa; você não passa por eles, você reside em todos eles, e com o tempo vai se tornando tão íntimo que o seu próprio espírito estará diluído no local que habita, ou como se diz por aí, ele terá a sua cara.
A aposta de meu Si Fu é também a minha, de estudar com mais profundidade cada Nível, mais que revisitando-os, habitando em cada um deles, com minha leitura, com minha identidade, com meu Kung Fu.




Relatando aos presentes um pouco da minha experiência de Vida Kung Fu ao lado de meu Si Fu.




No Baat Jaam Do fazemos uso das facas, e armas não são para crianças. Um Kung Fu adulto reconhece seus limites, e não se envergonha deles, mas estabelece um compromisso pessoal para transpor a cada um. Penso ser este um bom caminho para se alcançar a Mestria.
E o que há de principal, de mais profundo em tudo isso, é a relação que estabeleço com meu Si Fu. Mesmo com todas as minhas fraquezas, todos os meus medos, todos os meus vícios, ele sempre me deixou as portas abertas, e lançou uma compreensão sobre mim, que muitas vezes nem eu mesmo tinha. Ter o coração aberto para perceber que a relação Kung Fu vai para muito além de uma boa posição do punho, é algo que só o tempo e a proximidade permitem, é algo que experimentamos na Vida Kung Fu.
Meu Si Fu diz, que para acontecer o desenvolvimento do Kung Fu, é importante esperar e respeitar o tempo de cada pessoa, e agora depois de alguns anos, vejo que o meu tempo chegou, através do firme propósito de fazer o meu melhor.
E com tudo isso, sobre o que eu era, o que sou, e ainda serei, tenho a plena consciência de que não conseguiria chegar a todas estas conclusões sozinho.
 Meu Si Fu sempre apostou em mim, e suas palavras no dia da minha passagem de Nível, apontam na direção da construção do meu Kung Fu.




Foto Oficial:  Si Fu e Si Mo (Sra. Márcia Moura Camacho) por ocasião de minha passagem de Nível para o Baat Jaam Do.





segunda-feira, 8 de junho de 2020

Fazer o melhor com o que se tem.


Si Fu me observa durante a minha Cerimônia de Discipulado. De pé meu orientador, Si Hing Thiago Pereira.




Você já deve ter ouvido de algumas pessoas, provavelmente até de si mesmo, sobre não estar preparado para realizar algo em determinado momento da vida.
Os motivos que encontramos são os mais variados: "aconteceu de repente", "não era a hora disso acontecer", ou até mesmo "que falta de sorte!" 
Diante de um desafio que se apresenta em nossa vida, em um momento que não esperávamos, o que pode a experiência de Vida Kung Fu nos dizer sobre isto? 
Um homem de Kung Fu se dedica a refinar tudo aquilo que faz, buscando realizar com excelência toda e qualquer ação. Não procura executar com refinamento apenas assuntos mais complexos, pelo contrário, fazendo daquele uma prática diária, inclusive sobre situações cotidianas consideradas banais, que muitas vezes outras pessoas executam com automatismo, o praticante apura o seu  Kung Fu, afinal quem realiza algo simples com alto grau de refinamento, tem a disciplina para transformar toda e qualquer ação, alicerçada na qualidade que tem como um hábito.
Longe de ser um comportamento adestrado, rígido e inflexível,  o homem de Kung Fu aceita as transformações que se apresentam e por esta razão, enxerga-se como parte do todo, não manipula o cenário, mas ajusta-se a ele, não se nega à experiência, abre-se à ela sem preconceito, sem a pretensão de oferecer além daquilo que pode, ele vai com aquilo que ele tem, fazendo o seu melhor. 
Quantas vezes não nos recusamos a fazermos algo, nos julgando incapazes, acreditando não estarmos preparados para o desafio que se apresenta?
 Se idealizarmos como deveriam ser nossas ações, para além daquilo que podemos concretizar, sempre estaremos diante de um pensamento extremamente crítico, apontando para a nossa incapacidade de realização. 





Recebendo de meu Si Fu meu broche de Discípulo.





A vida Kung Fu é uma experiência relacional, na qual o praticante, orientado por seu Si Fu, desenvolve sua humanidade. É um processo de reconhecimento sobre si mesmo, capaz de potencializar através da relação de zelo, a competência para enxergar de forma mais sensível os cenários que se apresentam na vida.
 É desenvolvendo sua humanidade, que o praticante de Kung Fu se torna mais perceptivo, a ponto de não ver na novidade que se apresenta uma adversidade, pelo contrário, busca na oportunidade que há em cada situação nova, um potencial "escondido", presente em toda e qualquer circunstância. 
Não sendo um alienígena daquilo que se apresenta, mas alguém que se reconhece como parte, o praticante de Kung Fu, não resiste aos acontecimentos, pelo contrário, se apoia neles e age, não se frustra se julgando despreparado, ele vai com aquilo que ele tem, buscando fazer o seu melhor.






Momento de Vida Kung Fu: Si Fu e quatro de seus Discípulos em um Café da Manhã no Mo Gun. 

segunda-feira, 1 de junho de 2020

O valor dos passos.




Si Fu e o Conselho de Discípulos do Clã Moy Jo Lei Ou.




Aprendi com meu Si Fu, Mestre Senior Julio Camacho, que a prática do Kung Fu aponta para um processo de desenvolvimento humano, catalisando o encontro do praticante consigo mesmo.
Como todo o crescimento, nos deparamos com prazeres e dores, e a experiência de Vida Kung Fu não poderia ser diferente, uma vez que é um caminho vivido dentro de um Mo Gun, uma Casa de Guerra materializada no prédio local de prática, mas que também possui sua face imaterial, na relação com os outros, e consigo mesmo.
É muito importante que o  praticante de Kung Fu tenha a mente sempre em guarda, pronta para agir, para que este processo de desenvolvimento seja aproveitado da melhor forma possível.
A ideia do trabalho árduo para que se alcance um bom resultado é viva no imaginário geral, mas o fato é que um Kung Fu refinado se esforça, para não precisar fazer força. Desenvolve-se a capacidade de percepção, brotando com isso, uma visão apurada, capaz de antever e agir, não como uma forma de adivinhação, mas um condão adquirido dentro um processo de Vida Kung Fu.




Si Fu entre os Diretores de Núcleo André Almeida (à esquerda) e Cláudio Teixeira (à direita) durante prática no Núcleo Ipanema.




Ficará então o praticante diante de si mesmo, e terá a cada passo de contar mais e mais tão somente consigo, como um pássaro que terá de aprender a voar, ninguém lhe dará as asas, elas são conquistadas por você, porém seu Si Fu lhe orientará o voo.
Ao encontrar sua expressão pessoal, adquirindo a capacidade de leitura sobre si mesmo e sobre aquilo que o circunda, conseguindo expressar-se através de seu Kung Fu, o praticante perceberá com mais clareza a importância que mora no fim de cada etapa: longe de ser um abandono, será na realidade uma chance de releitura mais apurada de tudo o que viveu até ali, dando às relações e ao aprendizado, a experiência da maturidade aliada ao frescor jovial daquilo que se revive, só que agora com um olhar muito mais arguto.
 Isto é fundamental para quando vier o rompimento de uma fase na construção do Kung Fu, afinal, quando o novo se apresenta, o que ele faz de imediato, é por à prova tudo o que se construiu até agora.



Eu com dois irmãos Kung Fu, Thiago Pereira (à esquerda) e Rodrigo Moreira (no centro) durante as Comemorações dos 50 Anos de nosso Si Fu.